Obs.: Esse post dá início a uma série de posts voltados para o tema "Dia Internacional da Mulher". Pretendemos compreender, refletir sobre as conquistas já alcançadas pelas mulheres e pelos desafios que ainda precisam ser vencidos. Uma ótima semana das mulheres a todas, que nessa data nos ofereçam mais do que flores, nos ofereçam empatia, diálogo e mudança.
Ser mulher é um desafio para quem resolve adentrar em um campo de conhecimento predominantemente masculino. Sou arquiteta, formada a seis anos. Pouco, segundo a regra que diz que um jovem arquiteto, despontando na carreira, normalmente está na marca dos 40 anos. Eu ainda tenho 28 anos. Por isso, vale dizer que esse post é anedótico, trata apenas da pouca experiência, alegrias e frustrações dessa hiper jovem arquiteta na construção civil. Que provavelmente se inicia no momento em que comecei a ler. Meu pai tinha assinatura da revista "Arquitetura e Construção" e antes mesmo de ler uma revistinha da turma da mônica eu folheava revistas de arquitetura. Cresci e me interessei em desenho, em artes. E o tempo e a vida me levaram à uma sala de aula na universidade de Arquitetura e Urbanismo, essa profissão que tanto amo.
Na universidade, percebi que havia um grande número de mulheres, diria que 75% da turma, além de boa parte dos professores (em contrapartida, as faculdades de engenharia ainda são predominantemente masculinas). O que dá a entender que boa parte dos profissionais do ramo são mulheres. Porém ao me formar, vi que a porcentagem reduziu-se a 50%. Praticamente todos os homens continuaram até o fim da faculdade, as mulheres, não. Os motivos são os mais variados, há quem engravidou, desistiu, quem acabou ficando para trás.
Após a faculdade não foi diferente. As pessoas que eu soube que desistiram da profissão eram mulheres. Talvez esse nem seja o motivo, mas é curioso que o mercado pareça mais aberto aos homens que às mulheres. Comprovando essa teoria, lembro-me que, ainda estudante, um ex-chefe de quem gosto muito e que me atribuiu a tarefa de selecionar estagiários, me disse claramente: "Prefiro trabalhar com homens". E em outro momento, procurei um estágio em uma obra de uma fábrica de frangos e fui rejeitada com a seguinte frase: "Como o estágio é em obra, prefirimos contratar homens".
Após a faculdade não foi diferente. As pessoas que eu soube que desistiram da profissão eram mulheres. Talvez esse nem seja o motivo, mas é curioso que o mercado pareça mais aberto aos homens que às mulheres. Comprovando essa teoria, lembro-me que, ainda estudante, um ex-chefe de quem gosto muito e que me atribuiu a tarefa de selecionar estagiários, me disse claramente: "Prefiro trabalhar com homens". E em outro momento, procurei um estágio em uma obra de uma fábrica de frangos e fui rejeitada com a seguinte frase: "Como o estágio é em obra, prefirimos contratar homens".
Aliás há discriminação na associação de mulher e obra. Eu explico. Há quem diga que a mulher não deve estar presente na obra para a sua própria proteção. Ou ainda que uma mulher não conseguirá impor respeito aos trabalhadores (Nos dois casos há preconceito contra a mulher e contra o trabalhador, visto como alguém incapaz de se controlar com uma mulher por perto). Curiosamente, nunca tive esses problemas em nenhuma obra que já executei. A capacidade de um profissional não se mede pelo gênero.
Se essa situação já é flagrante com quem tem diploma superior de arquitetura e a mesma preparação que um profissional do sexo masculino para exercer a profissão, imagine como é nos cargos de execução da construção civil, em que a formação profissional é incipiente e quase sempre aprendida unicamente na prática: pedreiras, gesseiras, eletricistas, assentadoras de revestimento. Quem aí já reformou a casa e contratou uma dessas profissionais? O campo da construção civil, especialmente o trabalho braçal ainda é masculino.
O aquecimento do setor vem ofertando cada vez mais vagas e, com isso, a situação vem mudando gradativamente. Há cursos de formação para mulheres que se interessam por essas profissões, alguns até realizados em parceria com a Secretaria de Políticas para as Mulheres, do governo federal. A prioridade é garantir a profissionalização de mulheres pobres, com baixa renda, pouca escolaridade, em situação de risco social e vulneráveis à violência doméstica. Em outras palavras, o objetivo é empoderar essas mulheres, garantir-lhes independência. Mas ainda é insuficiente e os cargos normalmente são oferecidos por grandes construtoras.
Enquanto o cidadão comum não quiser contratar uma profissional para reformar a sua casa, não se pode dizer que a igualdade de gênero foi alcançada setor da construção civil.
Enquanto o cidadão comum não quiser contratar uma profissional para reformar a sua casa, não se pode dizer que a igualdade de gênero foi alcançada setor da construção civil.
Eu me recordo quando as mulheres começaram a trabalhar como frentista e cobradoras/motoristas (Que são profissões que remetem à outro assunto que ainda é tido como masculino: Carros). Era pauta para Jornal Nacional. E hoje é tão comum, vejo frentistas em praticamente todos os postos. Espero sinceramente que a construção civil caminhe para isso, para maior igualdade de gênero e sem discriminação de salários.
Aproveitando o gancho das frentistas, há de se lembrar também que, principalmente no começo, havia (ainda há, mas vejo em menor quantidade) uma exploração do corpo da mulher, onde eram obrigadas a trabalhar com roupas altamente "ousadas" para atrair a clientela. E isso gera muito constrangimento a essas mulheres que são, ao invés de empregadas, PRODUTOS visando agradar um público predominantemente masculino.
ResponderExcluirAliás, posso estar errado, mas tenho a impressão de que, ao contratar profissionais que serão a "vitrine" da empresa (recepcionista, por exemplo), a tendência é buscar mais mulheres que homens. Por que será?
Pois é, Felipe. Eu não sei porque, mas aqui onde moro, em Brasília, nunca vi uma frentista com roupas ousadas, elas normalmente usam o mesmo uniforme que os homens. Isso me faz ter uma dimensão diferente da sua em relação à profissão de frentista. Mas certamente é um absurdo que a mulher ainda seja usada como um produto, como vitrine, como qualquer outra coisa que não seja humano.
ExcluirAdorei seu texto e acho que temos sim que bater nessa tecla de questionar os campos de emprego predominantemente masculinos. Porque enquanto houver profissões essencialmente ligadas a um gênero, não se pode clamar que há igualdade, né?
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