'Menstruate with pride', oil on canvas, 215 x 275 cm - Sarah Maple |
Quem nunca ouviu a frase "Fala mais baixo, ninguém precisa saber que você está naqueles dias" ao pedir um absorvente pra colega de sala? Durante meu ensino fundamental, depois de passar muito pelo "Shiiiiiiiiu, não fale isso alto, você não tem vergonha?", eu descobri uma série de apelidos que o período menstrual tinha, por exemplo, "Tô de papai noel", "Tô de chico", "Tô naqueles dias", "Estou com visitas" e "Sinal vermelho", entre outros, todos eles com o fim de esconder a menstruação ou colocá-la com um nome "menos nojento". Os mitos que envolvem a menstruação são vários, quem nunca ouviu que mulher menstruada não pode arrumar a cama porque quem deitará naquela cama ficará doente? E não podemos esquecer dos famosos "mulher menstruada não pode fazer bolo, porque impede que ele cresça" e do "nesses dias não pode lavar o cabelo não, porque o sangue vai pra cabeça". Além desses mitos, há também o mito de que a mulher menstruada tem que ficar de repouso durante o período, e também que a mulher deve evitar de sair de casa "nesses dias". É fácil perceber como o corpo designado como feminino e a menstruação são cercados de mitos de toda espécie. Os últimos dois mitos citados tem um caráter de esconder ainda mais a mulher, além disso é possível refletir que durante o período menstrual as regras para as mulheres ficam ainda mais rígidas, como se a menstruação fosse um castigo.
O período menstrual, na sociedade patriarcal, é considerado um período de purificação da mulher, a menstruação é vista como algum impuro, sujo, assim como a mulher, que ao mesmo tempo em que é glorificada pela maternidade, é odiada em todas as outras formas. As mulheres são consideradas desde a Antiguidade perigosas, misteriosas, frias e o tabu da menstruação cresce baseando-se num suposto lado obscuro feminino, que supostamente é expelido durante a menstruação, e essa ideia é que fomenta a Bíblia condenar o contato da mulher menstruada com os demais familiares, lugares e coisas consideradas santas, por considerar o sangue impuro.
E a sociedade contemporânea compactua com esse pensamento de diversas formas, a menstruação é vista como algo a ser escondido, algo sujo, imundo e que não deve ser falado, principalmente com homens cis, porque “eles não precisam saber dessas nojeiras”. O nojo da menstruação é o nojo do que é considerado feminino, tudo que faz parte do ciclo menstrual, como o sangue, a vagina, o útero e os ovários são considerados imundos. E a mesma lógica do nojo da menstruação se aplica ao nojo da vagina, o constante estímulo comercial de venda de absorventes diários que teriam a função de despistar o cheiro da vagina, os sabonetes íntimos, a vinculação da depilação com a higiene são formas de esconder e despistar o feminino. E o ódio ao nosso corpo está muito vinculado a esse tabu, afinal, a vagina é considerada feia, incompleta, com cheiros desagradáveis e tem contato com o sangue de menstruação, com tantos julgamentos a respeito do que é bonito, feio, bom e mau, conhecer nosso corpo não é nem cogitado.
O tabu da menstruação, a misoginia e o tabu de sexo estão interligados. A menstruação na nossa sociedade simboliza que o que vem das mulheres é impuro, a misoginia está na vinculação do que é feminino ao que cheira mal, é feio, nojento, impuro e por fim, o tabu do sexo. O sexo com uma mulher menstruada é considerado um "pecado" em diversas culturas, na maioria delas, os homens que tivessem contato com o sangue de menstruação também seriam considerados impuros, como as mulheres. Há diversos mitos sobre o tema, um deles diz que as mulheres que engravidassem durante o período menstrual teriam filhos-monstros. Em outras culturas simplesmente é dito que a gravidez ocasionada pelo sexo com contato com sangue de menstruação originaria apenas filhas mulheres e por isso deveria ser evitado. O tabu do sexo vai além do sexo com menstruação. O estímulo de esconder tudo que é vinculado ao sistema reprodutor feminino faz parte da própria repressão sexual feminina, visto que esconder o ciclo menstrual seria reforçar que o desejo sexual deve ser escondido. O sexo e o desejo são considerados pertencentes ao homem cis, enquanto a mulher deve esconder seu desejo até aparentar não ter nenhum.
Colocar o tema “menstruação” como algo exclusivamente pertencente ao feminino, evitar tocar no assunto perto de homens, é sintomático. O corpo da mulher não é dela, o corpo pertence ao que o homem pensa sobre ele e para haver a libertação é necessário falar sobre, parar de esconder e se envergonhar do próprio corpo. Falar sobre menstruação, é tomar para si o desejo, o tesão e sua autonomia.
Observação: nem todas mulheres menstruam e não somente mulheres menstruam, entenda melhor lendo textos no "Transfeminismo". Os mitos sobre a menstruação além de misóginos e machistas, são também cissexistas.
sempre tive tantos problemas com menstruação, tanto nojo e nunca tinha parado pra pensar que isso era algo cultural que tinha a ver com a cultura machista, sou muito imatura no feminismo ainda
ResponderExcluirMari
Caraca... nunca tive problemas em pedir um penso no meio da sala de aula ou na frente de homens! :p
ResponderExcluirRaquel
Ainda bem. ^^
ExcluirTODAS AS VEZES EM QUE FIZ BOLO MENSTRUADA ELE NÃO CRESCEU. ISSO NÃO É MITO É REALIDADE. GERALMENTE ESQUEÇO E FAÇO O BOLO MENSTRUADA E ELE NÃO CRESCE, AÍ ESPERO PASSAR A MENSTRUAÇÃO, FAÇO OUTROS E FICAM ÓTIMOS! HÁ ANOS É SEMPRE ASSIM!
ResponderExcluirAff, fala sério. Provavelmente não foi nem uma mulher que escreveu isso. Só um pirralhinho cínico.
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