sexta-feira, 9 de março de 2012

Dia Internacional da Mulher: Mulheres que negam o feminismo


Alô você, amiga feminista, me diga quantas vezes você já ouviu uma mulher dizer: "Não sou feminista nem machista". Não sabe? Perdeu as contas? Pois é, eu também não sei. Algumas mulheres negam por ignorância, por acreditar que o machismo é o oposto do feminismo. E não é sobre essas pessoas que eu escrevo hoje. O meu post é dirigido à quem acredita que o feminismo é desnecessário, chato, panfletário. Mulheres que se orgulham de não levantar bandeiras.
Vivemos em uma época de contradições. Dizem que essa geração está perdida, que é alienada, que não se envolve politicamente. Contudo, toda bandeira hasteada é alvo de crítica. O pensamento crítico é sempre acompanhado do estigma de tedioso, chato e autoritário. Me causa revolta (e um tanto de tristeza) quando uma mulher que se beneficia das conquistas do feminismo, normalmente da classe média, bem informada o suficiente para saber que o feminismo é a defesa da igualdade de gênero, nega que é feminista.
Veja bem, se essa mulher sai com os amigos para festas, bebe, tem liberdade sexual, independência financeira, paga as próprias contas, vive a sua vida de forma independente, ela deve tudo ao feminismo. Se um dia criassem uma máquina do tempo, eu gostaria de colocar uma dessas mulheres nela e fazer um passeio (breve, nem precisa ir muito longe) para que ela possa entender a importância do feminismo, talvez levando a presenciar momentos históricos importantes ou mesmo deixá-la no passado (recente) por um ou dois meses. E então veríamos se a opinião dela seria a mesma. Os direitos das mulheres não caíram do céu no colo delas (e nem cairão no futuro breve). As mulheres lutaram muito para adquirí-los.
Essa ingratidão acomete muita gente. E não é só ingratidão, é egoísmo também. Porque muitas conquistas do feminismo foram para a classe média. Mas o que dizer das mulheres que vivem em maior vulnerabilidade social? O movimento feminista conseguiu muitas vitórias que privilegiaram a classe burguesa, mas a classe pobre ainda sofre em grau muito maior a opressão de gênero. A mulher pobre precisa muito do feminismo.
Pensamento crítico é estigmatizado. Se você pensa, verbaliza, discute, é chato, é tedioso ou pior: é arrogante. Por isso acho também que uma boa parcela das mulheres que criticam o feminismo, mas usufruem das suas conquistas, tem medo da não-aceitação. Parece que muitas mulheres ainda não se acostumaram a ocupar o espaço público. É quase um pedido de desculpas: "Homem, estou aqui ocupando o lugar que antes era só seu, foi mal. Mas eu não sou feminista, não, viu?". Isso não ocorre apenas com mulheres, o medo na não-aceitação acomete todas as minorias.
A geração dos meus pais levantou as bandeiras que permitiram que hoje a gente tenha uma democracia no Brasil. É triste ver que essa atitude hoje seria descrita como coisa de gente chata, que não tem o que fazer. Isso invisibiliza a luta. Falar de política pode até ser chato, mas é importante. Nem todo mundo tá afim de entreter ou usa as redes sociais, os blogs e a vida para seguir a maré. Nem todo mundo acha que o mundo está maravilhoso e que os problemas que existem se resolverão sem a necessidade de mobilização e se conforma com o que existe à sua volta. Eu não levanto bandeiras porque isso me faz feliz, eu levanto porque acho necessário. E nem toda bandeira que levanto me beneficia diretamente. O feminismo panfletário incomoda? Ótimo, porque é o incômodo que faz as pessoas sairem do seu lugar antes confortável. Move o mundo.
Quem diz que não está em lado nenhum, que não é feminista e nem machista, acaba se tornando machista (no caso das mulheres compreendemos que existe machismo internalizado e que nem sempre isso é fácil de ser dissolvido e que obviamente o machismo feminino não é "pior" que o masculino, como alguns dizem). Porque a neutralidade favorece o lado opressor. Quem se cala contribui para o machismo, e no caso das mulheres, o machismo que muitas vezes elas reproduzem, é o mesmo que as oprimem. Como já diria o ministro Ayres Britto: "A mesma liberdade para cordeiros e lobos é excelente para os lobos".

Escrito por Gizelli Sousa, co-autoria de Elisa Prando, Flávia Simas, Thaís Campolina e Paula Mariá

Edit (08/10/2013): O feminismo é para todas, tanto para nós feministas, como também para as mulheres que negam o feminismo. Entendemos que o machismo feminino não é pior que o machismo masculino, porque as mulheres que o reproduzem são vítimas do mesmo machismo que oprime a todas e quem detém o poder de oprimir nesse sentido são os homens, porque são eles que coordenam as instituições, são eles que são os opressores, de fato.

3 comentários:

  1. Esse texto é de perder o fôlego Giza, obrigada por ter colocado as idéias tão bem!

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  2. eu já neguei o feminismo tantas vezes, mas foi através da internet, no blog da lola e no blogueiras feministas que eu entendi melhor o que é o feminismo e hoje sou feminista com muito orgulho!!!

    Mari

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  3. O feminismo é para todas, é para mulheres que negam o feminismo e sua necessidade e também para as feministas. Afinal, todas as conquistas do feminismo tem a finalidade de tentar atingir beneficamente todas as mulheres, sejam feministas ou não. Elas podem negar o feminismo, mas o feminismo não fecha as portas para elas.

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