segunda-feira, 5 de março de 2012

Dia Internacional da Mulher - Mulheres com a mão na massa



Obs.: Esse post dá início a uma série de posts voltados para o tema "Dia Internacional da Mulher". Pretendemos compreender, refletir sobre as conquistas já alcançadas pelas mulheres e pelos desafios que ainda precisam ser vencidos. Uma ótima semana das mulheres a todas, que nessa data nos ofereçam mais do que flores, nos ofereçam empatia, diálogo e mudança.

Ser mulher é um desafio para quem resolve adentrar em um campo de conhecimento predominantemente masculino. Sou arquiteta, formada a seis anos. Pouco, segundo a regra que diz que um jovem arquiteto, despontando na carreira, normalmente está na marca dos 40 anos. Eu ainda tenho 28 anos. Por isso, vale dizer que esse post é anedótico, trata apenas da pouca experiência, alegrias e frustrações dessa hiper jovem arquiteta na construção civil. Que provavelmente se inicia no momento em que comecei a ler. Meu pai tinha assinatura da revista "Arquitetura e Construção" e antes mesmo de ler uma revistinha da turma da mônica eu folheava revistas de arquitetura. Cresci e me interessei em desenho, em artes. E o tempo e a vida me levaram à uma sala de aula na universidade de Arquitetura e Urbanismo, essa profissão que tanto amo.
Na universidade, percebi que havia um grande número de mulheres, diria que 75% da turma, além de boa parte dos professores (em contrapartida, as faculdades de engenharia ainda são predominantemente masculinas). O que dá a entender que boa parte dos profissionais do ramo são mulheres. Porém ao me formar, vi que a porcentagem reduziu-se a 50%. Praticamente todos os homens continuaram até o fim da faculdade, as mulheres, não. Os motivos são os mais variados, há quem engravidou, desistiu, quem acabou ficando para trás.
Após a faculdade não foi diferente. As pessoas que eu soube que desistiram da profissão eram mulheres. Talvez esse nem seja o motivo, mas é curioso que o mercado pareça mais aberto aos homens que às mulheres. Comprovando essa teoria, lembro-me que, ainda estudante, um ex-chefe de quem gosto muito e que me atribuiu a tarefa de selecionar estagiários, me disse claramente: "Prefiro trabalhar com homens". E em outro momento, procurei um estágio em uma obra de uma fábrica de frangos e fui rejeitada com a seguinte frase: "Como o estágio é em obra, prefirimos contratar homens".
Aliás há discriminação na associação de mulher e obra. Eu explico. Há quem diga que a mulher não deve estar presente na obra para a sua própria proteção. Ou ainda que uma mulher não conseguirá impor respeito aos trabalhadores (Nos dois casos há preconceito contra a mulher e contra o trabalhador, visto como alguém incapaz de se controlar com uma mulher por perto). Curiosamente, nunca tive esses problemas em nenhuma obra que já executei. A capacidade de um profissional não se mede pelo gênero.
Se essa situação já é flagrante com quem tem diploma superior de arquitetura e a mesma preparação que um profissional do sexo masculino para exercer a profissão, imagine como é nos cargos de execução da construção civil, em que a formação profissional é incipiente e quase sempre aprendida unicamente na prática: pedreiras, gesseiras, eletricistas, assentadoras de revestimento. Quem aí já reformou a casa e contratou uma dessas profissionais? O campo da construção civil, especialmente o trabalho braçal ainda é masculino.
O aquecimento do setor vem ofertando cada vez mais vagas e, com isso, a situação vem mudando gradativamente. Há cursos de formação para mulheres que se interessam por essas profissões, alguns até realizados em parceria com a Secretaria de Políticas para as Mulheres, do governo federal. A prioridade é garantir a profissionalização de mulheres pobres, com baixa renda, pouca escolaridade, em situação de risco social e vulneráveis à violência doméstica. Em outras palavras, o objetivo é empoderar essas mulheres, garantir-lhes independência. Mas ainda é insuficiente e os cargos normalmente são oferecidos por grandes construtoras. 
Enquanto o cidadão comum não quiser contratar uma profissional para reformar a sua casa, não se pode dizer que a igualdade de gênero foi alcançada setor da construção civil.
Eu me recordo quando as mulheres começaram a trabalhar como frentista e cobradoras/motoristas (Que são profissões que remetem à outro assunto que ainda é tido como masculino: Carros). Era pauta para Jornal Nacional. E hoje é tão comum, vejo frentistas em praticamente todos os postos. Espero sinceramente que a construção civil caminhe para isso, para maior igualdade de gênero e sem discriminação de salários. 

3 comentários:

  1. Aproveitando o gancho das frentistas, há de se lembrar também que, principalmente no começo, havia (ainda há, mas vejo em menor quantidade) uma exploração do corpo da mulher, onde eram obrigadas a trabalhar com roupas altamente "ousadas" para atrair a clientela. E isso gera muito constrangimento a essas mulheres que são, ao invés de empregadas, PRODUTOS visando agradar um público predominantemente masculino.

    Aliás, posso estar errado, mas tenho a impressão de que, ao contratar profissionais que serão a "vitrine" da empresa (recepcionista, por exemplo), a tendência é buscar mais mulheres que homens. Por que será?

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    1. Pois é, Felipe. Eu não sei porque, mas aqui onde moro, em Brasília, nunca vi uma frentista com roupas ousadas, elas normalmente usam o mesmo uniforme que os homens. Isso me faz ter uma dimensão diferente da sua em relação à profissão de frentista. Mas certamente é um absurdo que a mulher ainda seja usada como um produto, como vitrine, como qualquer outra coisa que não seja humano.

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  2. Adorei seu texto e acho que temos sim que bater nessa tecla de questionar os campos de emprego predominantemente masculinos. Porque enquanto houver profissões essencialmente ligadas a um gênero, não se pode clamar que há igualdade, né?

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