terça-feira, 15 de julho de 2014

Pelo direito de envelhecer

Li esse texto, do ótimo Lugar de Mulher e fiquei pensando no texto que há muito ensaio para escrever.

Eu não sou uma mulher bonita, nunca precisei, e espero nunca precisar, me valer da aparência para conquistar algo. Mas, ainda carrego um número infinito de padrões martelando em minha cabeça: "emagreça um pouco mais", "cuide do cabelo", "maquiagem pode esconder essa cicatriz aqui", "faça mais exercícios", "essa roupa modela mais sua cintura". Frases ditas por outros ou por minha (falta de) consciência.

Ano passado, eu conheci uma mulher linda, fabulosa, chamada Lina Chamie (vejam os filmes dela, vejam). Tive a Lina como professora e musa inspiradora em muitos aspectos. Uma das mulheres mais fascinantes que eu já conheci, de 51 anos e cabelo quase branquinho.

Lina Chamie, dirigindo o fantástico documentário
                              São Silvestre
Eu tenho fios brancos desde a adolescência. Com o tempo eles foram buscando mais espaço dentre os meus milhares de fios. E, por pressão de muita gente, eu usava tonalizante/tinta mensalmente. Uma média desleixada, acreditem. Me parece que a margem segura para esconder a situação é de 20 dias, estourando. Me sentia terrivelmente feia e envelhecida quando aquele meio centímetro apontava. Uma escravidão que, eu sei, muitas de vocês passam, meninas.

Então, há um ano, em maio de 2013, eu decidi que ia assumir meus fios, tal qual minha musa, a Lina. E parei de pintar. Com o tempo, o incômodo de ter parte do cabelo ainda tinto, me fez encurtá-lo. Queria logo acelerar o resultado para saber se eu me reconheceria grisalha ou não.
Grisalha e fabulosa
Eu me reconheci. Não sou mais uma jovem  (há algum lugar da legislação que limita a juventude aos 29 anos). Não quero parecer menina. Sou adulta. Não quero negar o que já vivi, maquiando minha aparência enlouquecidamente, para sorrir envaidecida em agradecimento ao "nossa, mas 33? não parece".

Eu adoro o meu cabelo grisalho. Adoro também a praticidade de lavar e hidratar e nada mais. E, olha que engraçado, as pessoas o adoram também. A reação de quem decide comentar a minha decisão varia entre elogiar e se ver refletidas na minha experiência capilar. Mulheres que afirmam desejar fazer o mesmo, mas por algum motivo (insira aqui algum padrão estético) não o fazem. Até hoje, com esse um ano de cabelo sem tinta, eu recebi quatro comentários negativos. Um, de uma amiga querida, que por me ver raramente nem notou que era uma decisão pessoal, pensou que era desleixo ou falta de tempo. E a segunda, uma pessoa embriagada no metrô, que depois de falar que eu era muito nova para isso, saiu batendo a mão em toda placa que via. O terceiro e o quarto, ah, preguiça de comentar, tudo fundamentado no padrão de beleza e no convencimento de que eu não devia deixar o cabelo assim, sob pena de aparentar mais idade do que tenho.


Eu, meu cabelo grisalho e a satisfação dos 33 anos.
E qual o problema de aparentar mais idade? Envelhecer é legal. Negar o quanto de coisas boas já viveu, por conta de uma indústria que só quer te ver sem auto estima e consumista, não.

Essa não é uma ode aos cabelos brancos. É uma ode à satisfação de ter a idade que se tem, aparentando mais ou aparentando menos, mas com um montão de experiência acumulada.



Meu corpo mutante - Aline Valek

9 comentários:

  1. Parabéns pela coragem, com certeza deve ser libertador e isso mostra o quanto de personalidade você tem. Belo texto por sinal :)

    ResponderExcluir
  2. Postamos seu texto na nossa página, espero que não se importe. Um abraço.
    https://www.facebook.com/asmulheresmanjam/photos/a.584157298370492.1073741828.583942021725353/586242351495320/?type=1&theater

    ResponderExcluir
  3. Olhe, eu não tenho a sua coragem mas acho louvável a sua atitude. Parabéns.

    ResponderExcluir
  4. Estava hoje pensando em fazer o mesmo! Obrigada!

    ResponderExcluir
  5. Que bacana! Nunca pintei o cabelo, e quando os primeiros fios brancos apareceram arranquei... Esse ano apareceram em maior quantidade e resolvi relaxar. Acho eles lindinhos e fico feliz quando encontro um novo. Tenho 26 anos. Não quero virar escrava de tintura e estou feliz assim. Que legal ler este texto aqui. :)

    ResponderExcluir
  6. Não tenho cabelo branco ainda, mas ainda bem que não tenho mais a ideia que TENHO que pintar quando eles aparecerem.

    ResponderExcluir
  7. Acho que a aparência é a última coisa com quem alguém deveria se preocupar, mas devo dizer que se você não é uma mulher bonita, não sei o que é "ser bonita" então. :)

    ResponderExcluir
  8. Eu acho que você chiquérrima! Acho um charme as mulheres que assumem seus grisalhos. Christine Lagarde do FMI é musa!

    ResponderExcluir