quarta-feira, 13 de junho de 2012

Recalque Misógino


Na semana do dia dos namorados percebe-se que ao contrário do que deveria ser, o amor não é pra todos. Nas propagandas que anunciam promoções para o dia você só vê casais, héteros, cis e brancos. Como se amar mais de uma pessoa não fosse amor, como se casais de lésbicas de gays não existissem, como se transexuais não amassem e negros também.

Versão Só que não de uma imagem machista.
E sabe quem mais não merece amor? A mulher considerada vadia. Ela sente toda a pressão para estar acompanhada de um homem, como se ela precisasse dele. Sente que o valor dela depende se ela consegue arrumar um namorado ou não, mas a sociedade diz que ela não merece um namorado, ela não merece um amor e nem sequer pode reclamar que não está num relacionamento, simplesmente porque ela tem vida sexual ativa, porque o comportamento dela difere dos papéis de gênero, porque ela é uma mulher e se ela não foi "escolhida", ela não se dá valor e não merece nem amor, nem respeito e nem carinho. 

Essa (falta de) lógica misógina da nossa sociedade se mostra de forma ainda mais doentia: com piadas de "feliz dia dos namorados" utilizando imagens do caso Eloá. Brincar com o femicídio de Eloá não é politicamente incorreto, não é só uma piadinha inofensiva, não é uma crítica ao dia dos namorados, é negligência, é babaquice, é falta de ética e é misoginia.

A negligência está em ignorar as estatísticas assustadoras de mulheres que sofrem e sofreram violência por parte de seus parceiros e companheiros, ignorar o medo de várias mulheres de denunciar a violência sofrida, ignorar o tratamento recebido pelas mulheres que são vítimas de violência nos hospitais, na justiça e na delegacia e ignorar que até hoje os crimes como o do caso Eloá são considerados "crimes passionais".

Propaganda típica de dias dos namorados. Só loiros amam.
Na semana do dia dos namorados é importante destacar que amor e paixão não tem nada a ver com assassinato, com estupro, com ameaça, portanto não há que se falar em crime passional quando uma mulher é morta pelo seu companheiro, o nome certo é femicídio. Quem ama não mata e nem maltrata, quem ama não se acha dono do parceiro, quem ama respeita. 

Enfim, não se engane, o amor não é para todos. São poucos que tem a permissão de amar, e dentre esses poucos, praticamente não há mulheres. Afinal, em tempo de patriarcado, mulher que tem voz, se ama independente se ama outrx, se respeita e não é submissa, não merece respeito e nem amor, merece sim ser punida por ser assim.

11 comentários:

  1. Muito bom o texto, Thaís... além da Eloá também pipocaram alguns do diretor da Yoki. É muito doentio fazer essas imagens comparando amor com assassinatos tão cruéis quanto os desses casos, e o pior, ainda achar que isso é engraçado.

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  2. e o caso de mulheres q já entram num relacionamento fragilizadas? q casam p fugir dos pais, da falta de família no sentido real, da falta de respeito e liberdade? Atendo mulheres já casadas e noivas e ambas acabam infelizes enxergando por elas próprias q não fizeram conscientement a opção de casar, mas se deixaram chegar até o casamento. Percebem também q se antes obedeciam ao pai, agora devem satisfação ao marido. Estas mulheres são normalmente dependentes emocionais e não conseguem grandes sucessos quando trabalham e acabam dependendo também financeiramente do marido ou no máximo sustentam a elas próprias mas não participam das despesas da casa. Desta forma, elas nem sabem do que gostam do que não gostam e têm a vida regrada pelas vontades e gostos do marido..passaram a vida a ceder, satisfazendo a vontade primeiro do pai, depois do noivo e agora do conjuge
    Chegam também com mta dificuldade de separarem-se e batalharem uma carreira.Eu diria que são mulheres sofridas e cansadas que acabam buscando a terapia apenas para aprender a conviver c o casamento q nunca será desfeito,porq elas não querem baixar o padrão de vida delas e dos filhos c a separação e pq se acham incapazes de "a esta altura" de trabalhar fora. Estas mulheres são "culpadas" pelo abuso q os parceiros exercem sobre elas? São merecedoras de recriminação por serem sustentadas e não fazerem valer suas vontades?

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    1. Luciana, se formos pensar, todas mulheres sentem essa pressão para casar, depender do outro, ser submissa, passiva e dependente. Somos criadas pra termos donos, pai, irmão, marido/namorado e chefe. Essas mulheres tem origem na cultura machista e são vítimas dela. :/

      Mas para o patriarcado, elas são as mulheres "que amam", as únicas que merecem serem amadas, e a gente bem sabe como essa idéia é nociva, ela é a idéia de santa x puta, de mulher que se dá o valor e mulher que não te valor.. Essas mulheres que você falou são infelizes, sofrem, não são culpadas e não merecem recriminação, elas merecem apoio. A dependência emocional é um fator que impede denúncias de violência física e sexual, imagina então o quanto impede uma mulher de querer sair de um relacionamento que aparentemente não tem problema algum?

      Indico esse texto aqui: http://nascermulher.blogspot.com.br/2011/08/todos-dizem-eu-te-amo.html

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    2. No texto, eu tratei só da mulher considerada vadia não ter o direito de amar e a gente sabe que "vadia" é toda mulher que desobedece os padrões de "feminilidade", né?

      E pra não me estender, não cheguei a falar sobre mulheres que entram nos relacionamentos fragilizadas, eu cheguei a ler sobre, mas não me sinto capaz de falar, porque não entendo desse aspecto psicológico, mas queria trazer um pouco do que li pra ver se entendi certo, pode ser? Numa das minhas leituras, Saffioti diz que mulheres em situação de dependência emocional, financeira e até mesmo sendo vítimas de violência, muitas vezes reagem, mas da forma delas, da forma que elas acham que podem, tudo pra fugir daquela situação. De forma, que essa passividade com a violência e com a situação não é bem uma verdade absoluta, elas são sujeitos, mesmo que dependentes, mas elas não são cúmplices daquela violência, mesmo numa aparente passividade, porque para haver essa cumplicidade teria de haver consentimento. E como podemos falar em consentimento se não há igual poder?

      Enfim, acho que essa reflexão que trago tem a ver com o texto que você escreveu, porque elas buscarem terapia pra "aguentar o casamento" mostra que essas mulheres não são tão passivas assim, elas não são cúmplices daquilo ali, elas não concordam.

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  3. Adorei!Agradeço a resposta!Gostei especialmente qdo vc disse q elas são sujeitos mas não cúmplices.Minha monografia foi sobre violência física contra a mulher e sei o qto a dependência emocional impede e influencia a denúncia. Mas se a mulher já sai da casa dos pais fragilizada, se sofreu abuso lá, aí a situação se torna bem pior.

    O queria saber vc conseguiu responder. Vocês (feministas) as veem como pessoas que precisam d apoio e não as recriminam por viverem por ex às custas do marido.

    Mto bom.Atualmente, tenho apoiado e fortificado uma paciente noiva, com data de casamento marcada, apartamento comprado,mas q reconheceu já q só está indo casar para sair de casa e que já é hoje infeliz com o noivo,um autoritário que diz até qdo ou não a vontade de transar dela está normal ou exagerada!!!

    Um processo difícil e sofrido mas estamos andando.Obrigada. Vou ler o texto.

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    1. luciana, uma dúvida: eu vi que você saiu de um grupo de feministas recentemente (eu to lá, lembro do seu nome) e agora vi você dizendo "vocês feministas". vc deixou de acreditar em feminismo por causa de um grupo? :(

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  4. Feridas Invisíveis..li no período da monografia.Tuitei ele esta semana (não defendendo, mas explicando) qdo falei do crime cometido por Elize contra o Yoki, q segundo depoimentos a humilhava, constrangia, ameaçava...mto bom texto!

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  5. friendzone é um dos itens que fazem parte do recalque misógino, né?
    a mulher desejada era linda, maravilhosa, até o momento em que ela o rejeitou, a partir daí ela tá proibida de amar

    Mari

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  6. Nossa adorei esse blog! XD morrendo de raiva desse recalque misógino! Puts, não somos Atlas pra segurar o mundo nas costas não! unf!

    O que mais me dá raiva, é que ser mulher é tipo fugir de um monstro num labirinto, todo lugar que vc vai tem um beco fechado, se vc é "santa" vc tá errada, se vc é "puta" tb, e meu, todo mundo tem o direito de ser feliz! aff. Povo maluco que não quer entender algo tão simples.

    Nha, tb tenho raivinha destes esteriótipos de casais! Só Ht e branco, loiro do olho claro! aff.

    :D abçs! vc escreve muito bem!

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  7. Na verdade, o verdadeiro homem não irá olhar a mulher por fora, e sim por dentro! Mas usar short curto é fogo mesmo, pra uma mulher! Short's é moda dos jovens a muito tempo, uma mulher madura usar é meio deselegante e mostra que ela ainda é uma adolescente que ainda não cresceu.

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    1. Não acho que uma mulher madura usar shorts seja deselegante e nem sinal de imaturidade, sabe?

      Acho que mulheres são livres pra se vestirem como quiserem, mesmo já mais velhas, afinal, mulher madura também tem direito a passear na rua sem sentir calor, né? Também tem direito de usar as roupas que ela acha mais confortáveis, não? A mulher mais velha está fadada a usar apenas calças? Ou apenas vestidos, caso esteja com calor? Acho injusto ditar roupas dessa forma. Vamos ser mais livres dessas regras sociais que só servem pra restringir nossa liberdade!

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