segunda-feira, 26 de novembro de 2012

A carne mais barata do Mercado Livre


Nem uma semana depois do dia da Consciência Negra, apenas alguns dias depois de eu ter escrito um texto cujo título é "a carne mais barata", falando da representação dos negros nas mídias, a querida Charô, do Blog Contravento, me informou que alguém achou engraçadão botar um anúncio no mercado livre. "Vendo escravos". R$15,00. Quinze reais, amigos. É o preço da carne negra no mercado livre. E ainda sou obrigada a ouvir por aí que tudo é humor e que racismo não existe. Veja só o print:








Deixe-me explicar uma coisa, o fato de ser humor não exclui o discurso racista. Essa brincadeirinha aí é crime. Sabe aquele livrinho chamado "Constituição Federal/88"? pois é, ele versa o seguinte:


"Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:



XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;"


Adelaide, o racismo
no horário nobre da TV

O humor racista é parte de uma cultura de ódio enraizado. Nos chocamos quando vemos esse tipo de coisa acontecer assim, tão abertamente quanto no anúncio do mercado livre, em que o ódio pode ser visto a olho nu. Mas ele se esgueira de muitas outras maneiras. Seja através do humor blackface, a exemplo de Adelaide, personagem do Zorra Total, ou de um jocoso comentário sobre o "cabelo ruim" de alguém. Todas essas manifestações que passam batido no nosso dia-a-dia merecem atenção. Não dá para se calar diante da perpetuação do discurso racista em comentários, programas de TV, na internet e etc. O discurso só muda de forma, mas continua possuindo o valor racista opressor.



Dia desses eu discuti com um contato meu no facebook por causa dessa publicação:
humor machista e racista


Vejamos, além de machista, por determinar que a mulher é objetificável, que seu corpo deve atender ao desejo de um homem, é principalmente racista, pois os quadrinhos retratam uma mulher negra sendo humilhada por um homem ao ser comparada com uma mulher branca. Quando confrontei o meu contato no facebook a resposta é que eu estava vendo pêlo em ovo. Claro, que foi. Afinal, racismo não existe, não é?

Quem não se lembra do rapazinho do meme "Para nossa alegria!"? Só digo uma coisa: pode ter sido engraçada a forma entusiasmada como ele canta a música, eu ri também, muita gente riu... mas é só isso mesmo? Fico me perguntando se fosse uma pessoa branca ali cantando da mesma forma, teria virado meme? Rir de gente negra e pobre é o modus operandi da nossa sociedade, vamos filtrar melhor o que nos faz rir, galera. Vamos ficar atentos à esse humor que se fazia em 1900. Não queremos um mundo sem graça, queremos humor sim, mas queremos que ele não humilhe as minorias historicamente oprimidas. O problema é que há tanto tempo o humor é feito dessa maneira que as pessoas parecem não querer mais rir de outra forma, somente a humilhação é engraçada.


Para denunciar o racismo na internet (o absurdo anúncio do mercado livre, por exemplo) é só entrar no site safernet

2 comentários:

  1. Para fazer um anúncio no Mercado Livre tem que ceder várias informações, incluindo número de documentos, né?

    Espero que essa pessoa seja penalizada e com essas informações tudo ficará mais fácil.

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  2. Safernet e nada é a mesma coisa. Não adianta denunciar.

    O pessoal da seifernéti é tão incompetente, idiota e ridículo que o MPF-SP rompeu uma parceria de quatro anos que tinha com a ONG (http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2010/11/mpf-sp-rescinde-parte-de-acordo-de-denuncia-de-crime-na-web-com-ong.html).

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