quinta-feira, 29 de novembro de 2012

A violência de gênero e o amor romântico

Esse texto foi retirado do site Pikara Magazine, a versão original é de Coral Herrera Gómez. Abaixo a tradução, feita por mim (o texto é longo, mas vale muito a pena).


O amor romântico é a ferramenta mais potente para controlar e submeter as mulheres, especialmente nos países em que são cidadãs de plenos direitos e onde, legalmente, não são propriedade de ninguém. 

São muitos os que sabem que combinar o carinho com os maus-tratos serve para destruir a autoestima de uma mulher e provocar sua dependência, por isso utilizam o binômio maus/bons tratos para deixá-las perdidamente apaixonadas e assim poderem dominá-las. 

Um exemplo disso é Káliman, cafetão mexicano que explica como prostituir as mulheres: Escolhe-se as mais pobres e necessitadas, preferencialmente aquelas que estão desejando sair do inferno caseiro em que vivem ou aquelas que precisam urgentemente de carinho porque se encontram isoladas socialmente.  Os cafetões seguem um roteiro para a perfeição: Primeiro as enchem de amor, atenção e presentes durante dois meses, fazendo com que elas acreditem que são as mulheres da vida deles e que sempre terão dinheiro disponível, tanto para as necessidades quanto para os caprichos. Depois jogam-nas cerca de dois dias em um prostíbulo para que as moças “façam terapia”: se resistem, brigam, se enfezam é melhor deixar que passem esse tempo sozinhas. Jamais se pede perdão. É necessário que sofram até que seu orgulho desmorone e se coloquem de joelhos, aceitando a derrota. 

O macho deve se manter firme, mostrar seu desprezo, deixá-la nos momentos de raiva e nunca ter piedade das lágrimas da esposa. Essa técnica lhes assegura que ela atenda seus desejos e trabalhe para ele nas ruas ou em prostíbulos; a maioria delas não tem para onde ir e, segundo eles, uma vez que provam do luxo não querem voltar para a pobreza. 

Esse relato de horror é muito comum no mundo inteiro. Não somente cafetões, mas também muitos namorados e maridos tratam as mulheres como éguas selvagens que precisam ser domesticadas para que sejam fiéis, submissas e obedientes. Muitos seguem acreditando que as mulheres nasceram para servir e amar aos homens. E muitas de nós, mulheres, seguimos acreditando nisso também. 

“Por amor” nos apegamos a situações de maus-tratos, abusos e explorações. “Por amor” nos unimos a homens horrendos, que a princípio parecem príncipes encantados, porém que logo nos enganam, se aproveitam de nós ou vivem às nossas custas. “Por amor” aguentamos insultos, violência, desprezo. Somos capazes de nos humilhar “por amor” e ainda nos gabarmos por nossa intensa capacidade de amar. “Por amor” nos sacrificamos, nos anulamos, perdemos nossa liberdade, perdemos nossas redes sociais e afetivas. “Por amor” abandonamos nossos sonhos e metas, “por amor” competimos com outras mulheres e nos tornamos eternamente inimigas, “por amor” deixamos tudo... 

Este “amor” quando chega, faz de nós mulheres de verdade, nos dignifica, nos deixa puras, dá sentido a nossa vida, nos dá status, nos coloca acima do resto dos mortais. Este “amor” não é somente amor: É também uma salvação. As princesas dos contos de fadas não trabalham: são mantidas pelo príncipe. Em nossa sociedade, alguém que te ame é sinônimo de êxito social, ser escolhida por um homem te dá valor, te faz especial, te faz mãe, senhora. 

Esse “amor” nos prende em contradições absurdas “deveria deixá-lo, porém não posso porque o amo/porque com o tempo ele irá mudar/porque ele me quer/porque é o que tenho”. É um “amor” baseado na conquista e na sedução e em uma série de mitos que nos escravizam, como o de que “no amor tudo pode”, ou o de que “uma vez que se encontra a sua metade da laranja é para sempre”. Esse “amor” nos promete muito, porém nos enche de frustração, nos aprisiona a seres para quem damos todo o poder sobre nós, nos sujeita a papéis tradicionais e nos pune quando não nos ajustamos ao que foi estabelecido para nós. 

Esse “amor” nos transforma também em seres dependentes e egoístas, porque utilizamos estratégias para conseguir  o que queremos, porque nos ensinam que é preciso dar para receber e porque esperamos que o outro “abandone o mundo” do mesmo modo que nós fazemos. Tanto que o “amor” que sentimos nos transforma em seres amargurados que vomitam diariamente censuras e reclamações. Se alguém não nos ama como nós amamos, esse “amor” nos faz vitimistas e chantagistas (“eu que daria tudo por você”). 

Esse “amor” nos leva ao inferno quando não somos correspondidas, ou quando somos traídas, ou quando nos abandonam: porque quando nos damos conta estamos sozinhas no mundo, sem amigas e amigos, familiares ou vizinhos, dependentes de um homem que acredita ter o direito de poder decidir por nós.
Por isso esse “amor” não é amor. É dependência, é necessidade, é medo da solidão, é masoquismo, é uma utopia coletiva, porém não é amor. 

Amamos patriarcalmente: O romantismo patriarcal é um mecanismo cultural para perpetuar o patriarcado muito mais potente que as leis: A desigualdade está aninhada em nossos corações. Amamos desde o conceito de propriedade privada e desde a base da desigualdade entre homens e mulheres. Nossa cultura idealiza o amor feminino como um amor incondicional, abnegado, entregue, submisso e subjugado. As mulheres são ensinadas a esperar e amar um homem com a mesma devoção que se ama a deus e se espera Jesus Cristo. 

A nós mulheres nos foi ensinado a amar a liberdade do homem e não a nossa própria. As grandes figuras da política, da economia, da ciência e da arte tem sido sempre os homens. Admiramos os homens e os amamos a medida em que são poderosos; as mulheres privadas de recursos econômicos e propriedades precisam dos homens para sobreviver. 

A desigualdade econômica por razões de gênero leva a dependência econômica e sentimental das mulheres. Os homens ricos nos parecem atraentes porque tem dinheiro e oportunidades. E porque somos ensinadas desde pequenas que a salvação está em encontrar um marido. Não nos foi ensinado a lutar para que tenhamos os mesmos direitos, mas sim a estar bonita e conseguir alguém que te mantenha, te queira e te proteja, ainda que para isso tenha que ficar sem amigas, ainda que tenha que se unir a um homem violento, desagradável, egoísta ou sanguinário. 

O exemplo mais claro que temos são os chefes do narcotráfico: Tem todas as mulheres que quiserem, tem todos os carros, drogas, tecnologias que quiserem, tem todo o poder para atrais as moças solitárias, sem recursos nem oportunidades. 

A desigualdade estrutural que existe entre mulheres e homens se perpetua por meio da cultura e da economia. Se gozássemos dos mesmos recursos econômicos e pudéssemos criar nossos bebês em comunidade, não teríamos relações baseadas na necessidade, acredito que amaríamos com muito mais liberdade, sem interesses econômicos por medo. E diminuiria drasticamente o número de adolescentes pobres que acreditam que engravidando vão garantir o amor do macho ou ao menos uma pensão alimentícia durante anos de sua vida. 

Os homens também são ensinados a amar a desigualdade. A primeira coisa que aprende é que quando uma mulher se casa com ele é “sua mulher”, algo parecido com “meu marido”, porém pior. Os homens tem duas opções:  ou se deixam amar desde acima (machos alfa), ou se ajoelham ante à amada em sinal de rendição (escravo). Os homens parecem manter-se tranquilos enquanto são amados, já que a tradição os ensina que não devem dar muita importância para o amor em suas vidas, nem deixar que as mulheres invadam todos os espaços, nem expressar em público seu afeto. 

Toda essa convenção é rompida quando a esposa decide se separar e dar início, sozinha, ao seu próprio caminho. Como em nossa cultura vivemos o divórcio como um trauma total, as ferramentas das quais os homens dispõem são poucas: podem se resignar, deprimir, se autodestruir (alguns se suicidam, outros se envolvem em uma luta até a morte, outros dirigem em alta velocidade na contramão) ou reagir com violência contra a mulher que diz amar. 

Aqui é quando entra em jogo a maldita questão da “honra”. A maior exposição do padrão duplo: Os homens perseguem as mulheres de maneira natural, as mulheres devem morrer assassinadas se cedem aos seus desejos. Para os homens tradicionais, a virilidade é um orgulho e está acima de qualquer meta: Pode-se viver sem amor, porém não sem honra. 

Milhões de mulheres morrem diariamente por “crimes de honra” a mando de seus maridos, pais, irmãos, amantes ou por suicídio (obrigadas por suas próprias famílias). Os motivos: Falar com um homem que não seja seu marido, ser estuprada ou querer se divorciar. Um único rumor pode matar qualquer mulher. E essas mulheres não podem construir uma vida própria fora da comunidade: Não tem dinheiro, não tem direitos, não são livres, não podem trabalhar fora de casa, não há forma de escapar. 

Contudo, as mulheres que gozam de direitos também se veem presas em suas relações matrimoniais ou sentimentais. Mulheres pobres e analfabetas, mulheres ricas e cultas: A dependência emocional feminina não distingue classes sociais, etnias, religiões, idades ou orientações sexuais. São muitas em todo planeta as mulheres que se submetem a tirania do “aguente por amor”. 

O amor romântico é, nesse sentido, uma ferramenta de controle social e também um anestesiador. Nos vendem-no como uma utopia possível, porém a medida que vamos caminhando em direção a ele, buscando a relação perfeita que nos faça felizes, achamos que a melhor forma de se relacionar é perdendo a própria liberdade, e renunciando tudo com o objetivo de assegurar a harmonia matrimonial. 

Nessa suposta harmonia, os homens tradicionais desejam esposas tranquilas que os amem sem pedir nada (ou muito pouco) em troca. Quanto mais deteriorada está a autoestima das mulheres, mais elas se vitimizam e mais dependentes são. Por isso mais dificuldade tem em entender que o amor de verdade não tem nada a ver com a submissão, nem com o sacrifício, nem com resistência. 

O casal é o pilar fundamental de nossa sociedade. Por isso a Igreja, os bancos penalizam as solteiras e promovem o matrimônio heterossexual; quando o amor acaba ou se rompe vivemos como um fracasso, como um trauma. Nos desesperamos completamente: Não sabemos separar nossos caminhos, não sabemos tratar com carinho alguém que quer se afastar de nós ou que encontrou uma nova parceira. Não sabemos como administrar as emoções: Por isso é tão frequente a troca de ameaças, insultos, vinganças entre os cônjuges. 

E por isso também tantas mulheres são castigadas, maltratadas e assassinadas quando decidem se separar e reiniciar suas vidas. A quantidade de homens que não possui ferramentas para enfrentar uma separação é muito maior: Desde pequenos aprendem que devem ser os reis e que os problemas são solucionados com violência, impondo sua autoridade. Seus heróis não choram, a não ser que alcancem seus objetivos (como ganhar uma copa de futebol ou exterminar os androides). 

O que nos ensinam nos filmes, contos, novelas, séries de televisão é que as mocinhas dos heróis os esperam com paciência, os adoram, cuidam e estão sempre dispostas para se entregar ao amor quando eles tiverem tempo. As moças da publicidade oferecem seus corpos como mercadoria, as boas moças dos filmes oferecem seu amor como prêmio pela valentia masculina. As boas moças não abandonam seus maridos. As moças más que acreditam ser donas de seus corpos e sua sexualidade, que acreditam ser donas de suas próprias vidas, que se rebelam, sempre acabam tendo seu castigo merecido (a prisão, doença, ostracismo social ou a morte). 

As moças más não são somente odiadas pelos homens, mas pelas boas moças também, porque desestabilizam toda a ordem “harmônica” das coisas quando tomam decisões e rompem com as amarras. Os meios de comunicação de massa nos apresentam os casos de violência contra a mulher como crimes passionais, e justificam os assassinatos e a tortura com expressões como “ela não era uma pessoa muito normal”, “ele havia bebido”, “ela estava com outra pessoa”, “ele, quando descobriu, enlouqueceu”. E se a matou foi porque “algo ela havia feito”. A culpa então recai sobre ela e a vítima é ele. Ela pisou na bola e merece um castigo. Ele merece se vingar para acalmar sua dor e reconstruir seu orgulho. 

A violência é um componente estrutural de nossa sociedade desigual, por isso é necessário que o amor não se confunda com possessão, da mesma forma que não devemos confundir a guerra com “ajuda humanitária”. Em um mundo onde utilizamos a força para impor ordens e controlar as pessoas, onde exaltamos a vingança como mecanismo para administrar a dor, onde utilizamos o castigo para corrigir desvios e pena de morte para reconfortar os lesados, é necessário mais do que nunca aprendermos a nos querer bem. 

É vital que entendamos que o amor deve estar baseado no bom trato e na igualdade. Porém não somente ao cônjuge, mas a sociedade inteira. É fundamental estabelecer relações igualitárias, nas quais as diferenças sirvam para nos enriquecer mutuamente, não para submetermos uns aos outros. É também essencial empoderar as mulheres para que não vivamos sujeitas ao amor e também ensinar aos homens a administrar suas emoções, para que possam controlar sua ira, sua impotência, sua raiva e seu medo, e para que entendam que as mulheres não são objetos pessoais, mas sim companheiras de vida. 

Além disso, devemos proteger os meninos e as meninas que sofrem em casa a violência machista, porque terão que suportar a humilhação e as lágrimas de sua heroína, sua mãe, porque terão de aguentar os gritos, os tapas e o medo, porque terão de viver aterrorizados, porque são órfãos, porque o mundo deles é um inferno. 

É urgente acabar com o terrorismo machista: Na Espanha o machismo já matou mais pessoas que o terrorismo nos Estados Unidos. No entanto, as pessoas se indignam mais ante ao segundo, saem para as ruas para protestar contra a violência, cuidam de suas vítimas. O terrorismo machista é considerado uma questão pessoal que afeta determinadas mulheres, por isso muita gente que ouve gritos de socorro não reage, não denuncia, não intervém. 

Dando uma olhada nos números, podemos perceber que o pessoal é político e também econômico: A crise acentua o terror, pois muitas não podem considerar se separar, e o divórcio se dá para os casais que podem se permitir isso economicamente. Uma prova disso é que agora se denunciam menos casos e em algumas ocasiões as mulheres são deixadas para trás; com os custos judiciais aprovados na Espanha, as mulheres mais humildes nem se dispõem a ir denunciar: apelar para a justiça é coisa de rica. 

É urgente trabalhar com homens (prevenção e tratamento) e proteger as mulheres e seus filhos e filhas. Devemos empoderar as mulheres, porém devemos trabalhar também com os homens, se não toda luta será em vão. É necessário promover as políticas públicas para que tenham um enfoque de gênero integral e é necessário que os meios ajudem a gerar uma rejeição generalizada a essa forma de terror instalado em tantos lugares do mundo. 

É necessária uma mudança social, cultural, econômica e sentimental. O amor não pode estar baseado na propriedade privada, e a violência não pode ser uma ferramenta para solucionar problemas. As leis contra a violência de gênero são muito importantes, porém precisam vir acompanhadas de uma mudança em nossas estruturas emocionais e sentimentais. Para que isso seja possível temos que transformar nossa cultura e promover outros modelos de relacionamentos amorosos que não estejam embasados em lutas de poder para dominarmos ou nos submetermos. Outros modelos de femininos e masculinos que não estejam embasados na fragilidade de umas e na brutalidade de outros. 

Temos que aprender a romper com os mitos, a nos livrar da imposições de gênero, a dialogar, a desfrutar das pessoas que nos acompanham pelo caminho, a nos unir e nos separar com liberdade, a tratarmos com respeito e ternura, a assimilar as perdas, a construir relações bonitas. Temos que romper com os ciclos de dor que herdamos e reproduzimos inconscientemente, e temos que libertar as mulheres, os homens e os que não são nem uma coisa nem outra, do peso das hierarquias, da tirania dos papéis e da violência. 

Temos que trabalhar muito para que o amor se expanda e a igualdade seja uma realidade para além dos discursos. Por isso esse texto é dedicado a todas as mulheres e homens que lutam contra a violência de gênero em todos os pontos do planeta: Grupos de mulheres contra a violência, grupos de autorreflexão masculina, autores e autoras que investigam e escrevem sobre esse fenômeno, artistas que trabalham para dar visibilidade a esse mal social, políticos e políticas que trabalham para promover a igualdade, ativistas que saem às ruas para condenar a violência, professores e mestres que fazem seu trabalho de sensibilização nas aulas, ciberfeministas que recolhem assinaturas para dar visibilidade a assassinatos e impulsionar leis, líderes e lideranças que trabalham nas comunidades para erradicar o maltrato e a discriminação das mulheres. A melhor forma de lutar contra a violência é acabar com a desigualdade e o machismo: analisando, tornando visível, desconstruindo, denunciando e reaprendendo junt@s.

33 comentários:

  1. A história do cafetão é tão igual a muitas outras... inclusive a de muitas de nós...
    Em tudo que foi abordado podemos relacionar o quanto é importante a independência financeira. Lógico que ela não resolve o problema da mentalidade patriarcal em nós enraizada, mas já dá a possibilidade de emancipação de forma menos complexa.
    Parabéns pelo texto!
    É como eu digo, o feminismo é lindo!

    ResponderExcluir
  2. Ando pensando muito sobre esse assunto pq claro, morar junto não é só maravilhas, mas eu fico sempre de cabelo em pé de pensar se meu namorado está começando a abusar, deixando mais tarefas para mim doq para ele fazer em casa e ignorando qdo eu reclamo, e se ele fica brabo com uma coisa eu grito de volta pq não quero deixar ele se impor

    ResponderExcluir
  3. Nada a acrescentar.
    Todo amor do mundo por esse texto!

    ResponderExcluir
  4. Amor de igual para igual é possível e eu vivo isso há 40 anos. Uma coisa que eu costumo dizer é que o amor não sobrevive à humilhação, e que não é possível amar realmente alguém se não sente respeito e admiração por ele/ela. Qualquer coisa fora isso é dominação/submissão ou um relacionamento distante e conveniente, mas amor com certeza não é.
    http://ateiadebomhumor.ligahumanista.org/2011/04/somos-dois-espiritos-livres-que-se.html

    ResponderExcluir
  5. Realmente.. lendo esse texto as mulheres parecem coitadas, fracas, injustiçadas... (ok eu parei de ler na metade)

    Essa tradição não é passada por homens malvados e sim por pais, mães, tios, tias,etc.

    Enquanto isso, esse machismo que se fala é mais agressivo com o homem do que com a mulher. SIM. o homem que é forçado a ir ao exército, a defender sua honra, a prover a mulher, a não amar, nao chorar, não ir ao médico. O número de mulheres atendidas pelo SUS é quase o dobro. O número de presidiários homens é 10 vezes maior. O homem deve abrir a porta, pagar, entrar depois. em caso de incendio mulheres e crianças primeiro.. Na hora de entrar, mulher não paga até a meia noite...

    Sei que não se resume a isso. Obvio que não somos forçados, obvio que não é uma batalha homem x mulher. A pergunta que fica é, quem se beneficia com isso? Se não é a mulher, uma coisa eu garanto... o homem que não é.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Rapaz, então me diga por que Deus você faz um post desse e admite nem ter lido esse texto inteiro? (e nem nenhum dos outros já postados aqui, pelo visto,nheam?)

      Mas acho bom reiterar a proposta: junte-se à nós por um mundo mais igualitário.

      Excluir
    2. Tenho que admitir que lendo até o final, o texto até subiu um pouco no meu conceito. Creio porém que todo o MIMIMI feito no começo (e bem no finalzinho) apenas contribui para a posição da mulher enquanto frágil vítima do sistema. O que de fato não é verdade, sendo apenas uma maneira de se encarar o problema, a qual considero negativa para a luta.

      Excluir
    3. Talvez seja 'mimimi' pra você, amigo. Mas pra quem está dentro do problema, acredite, não é.

      Talvez pareça exagero porque não te atinge, as pessoas tem essa tendência de raciocínio egoísta mesmo.

      O que contribui para essa posição da mulher na sociedade é o patriarcado.
      Sei q é super confortável culpar as vítimas (você tem que agir/ pensar/se comportar da maneira 'x' pra não ser oprimida/ vista como é vista e/ou se você não agisse/ pensasse/ se vestisse/ falasse/ escrevesse assim, talvez não seria oprimida...zzz); mas tente diferente, por favor. Por você e por nós. Tente pensar que uma pessoa merece respeito somente por SER uma pessoa, não porque preeche seus critérios de merecedor de respeito..

      Excluir
    4. "Enquanto isso, esse machismo que se fala é mais agressivo com o homem do que com a mulher. SIM. o homem que é forçado a ir ao exército, a defender sua honra, a prover a mulher, a não amar, nao chorar, não ir ao médico. O número de mulheres atendidas pelo SUS é quase o dobro. O número de presidiários homens é 10 vezes maior. O homem deve abrir a porta, pagar, entrar depois. em caso de incendio mulheres e crianças primeiro.. Na hora de entrar, mulher não paga até a meia noite..."

      quem conhece o feminismo sabe (e é desnecessario explicar) que o movimento feminista é contra essas formas de machismo que tu mesmo citou acima.. sim, sao formas de machismo, e nós queremos acabar com todas as formas de machismo, inclusive aquelas que fazem mal aos homens,.. entao nao chega aqui achando que vai dar liçaozinha de moral em todo mundo, e sair arrasando..
      dizer que a mulher se beneficia do machismo tbm é uma pequenez.. acredite, nenhuma mulher troca a liberdade de ir e vir sem ser morta ou estuprada por uma festa mulher nao paga..

      Excluir
    5. Nossa, qto conhecimento de causa!! nem sequer leu a íntegra do texto (como deve acontecer com frequência) e vem com argumentos nada a ver com o texto. Fala sério! Vai estudar!!

      Excluir
  6. 1. Sobre os privilégios: http://ativismodesofa.blogspot.com.br/2012/11/desenhando-mulheres-e-criancas-primeiro.html

    2. Realmente, ser estuprada, espancada pelo companheiro e morta é um tremendo benefício. Mais dados, menos senso-comum, por favor.

    3. Se nem um dos dois se beneficia com isso faça o favor de ler até o final do texto e se juntar a nós na proposta de construir um amor igualitário, obrigada.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Bom, não posso reclamar que tu não leu o meu comentário, porque eu também não havia lido o texto até o fim.

      Ser estuprado, discriminado, espancado e morto não é algo que aconteça unicamente com as mulheres.
      Quem sofre mais violência policial? Tu já trabalhastes com crianças vítimas de abuso? Eu já e te digo que metade dos casos são de meninos, que sofrem tanto ou mais do que as mulheres por isso. Apenas o homem exerce violência psicológica ou física contra a mulher? O contrário não existe? A mulher é sempre frágil? Ou será que nossa sociedade machista torna quase impossível para o homem admitir algo nesse sentido?
      Agora os homens são vítimas da mulheres? Também não. Todos os seres humanos somos afetados e afetamos esses processos. Se venho aqui para comentar é para aprender e para ajudar quem realmente estiver disposto a fazer isso a EFETIVAMENTE descontruir. Espero que possam me ajudar também. Postar aqui já é participar do processo.

      Excluir
    2. militantes te dao toda liberdade para concordar com o que dizem sem questionar nem querer saber os porques, naum tenta discutir. experiencia propria vai por mim.

      Excluir
    3. Sua arrogância encobre toda a impressão de que você quer 'desconstruir'.

      Você também pode procurar por aqui um texto (é, soy frequente aqui) que fala sobre a birra da exceção. Cai como luva no seu comentário.
      É só a gnt falar de um circuito de opridos que as exceções se levantam bradando q existem e que existem outras formas de opressão mais graves(no conceito deles, porque acho uó hierarquizar lutas, como se fosse impossível se preocupar com mais de uma coisa). O que faz parecer mais importante lembrar exceções do que combater regras.
      Se quiser me responder e antes disso, peço por favor q procure pelo texto q indiquei acima.

      Excluir
    4. "Apenas o homem exerce violência psicológica ou física contra a mulher? O contrário não existe? A mulher é sempre frágil? Ou será que nossa sociedade machista torna quase impossível para o homem admitir algo nesse sentido?"

      A dominação masculina é geralmente exercida entre homens e mulheres, só que entre homens e homens e mulheres e mulheres pode-se haver a reprodução dessa dominação, logo da violência tanto psicológica, sexual, quanto a doméstica, sabe? A sociedade ensina que quem tem as características consideradas masculinas domina e quem tem as femininas é dominado. (A dominação tem base da definição de padrões de gênero). Existe violência contra homens, é claro que existe, mas ela costuma acontecer fora de relacionamentos amorosos, costuma ser uma violência que ocorre no "espaço público" e é motivada muitas vezes por machismo mesmo. Homens são incentivados pela cultura provar seu valor sendo agressivo, por exemplo, coisa que pode ocasionar em mortes. (Não só na morte da companheira dele, mas também na dele numa situação como o trânsito, uma briga de bar e afins).

      E mais: a violência contra a mulher dentro de relacionamentos é ocasionada por uma cultura que coloca a mulher numa posição servil, de dominada. Essa violência é frequente e comum. Para lutar contra ela a gente não se pode apegar aos casos que são verdadeiras exceções, entende? E falar contra a violência contra a mulher não impede de refletirmos sobre o fato de que homens que sofrem violência, principalmente sexual, tem dificuldade de admitir porque sabem que a sociedade rirá deles, porque eles terão saído do seu papel de dominante. E esse comportamento social é ocasionado pelo quê? Pelo mesmo machismo que mata, estupra e agride as mulheres.

      Excluir
    5. Para o anônimo que nem leu o texto e só posta desonestidade intelectual: mais de 90% de casos de violência doméstica e sexual são cometidos por homens. A maioria das vítimas (cerca de 70% ou mais, se eu não me engano) são mulheres. (Não tenho os dados no momento porque não estou em casa, mas há um vídeo de uma campanha canadense que chama "man, lets talk" eu acho que ele apresenta alguns dados).

      (As estatísticas que demonstram que os homens são os principais agressores variam entre 90% a 95%).

      Excluir
  7. Texto perfeito para repensar essa herança do patriarcado da relação de poder do homem perante à mulher. Realmente é preciso mudar os padrões e desconstruir!

    Agradecida! =)

    ResponderExcluir
  8. Texto simplesmente perfeito, mostra tanto o lado errado do homem em manter a sua "honra de macho" quanto da mulher que acha que a única solução da vida dela é arrumar um príncipe encantado.
    Espero que mais pessoas tomem consciência que antes de amarem as outras se amem.

    ResponderExcluir
  9. Eu acho que vou soar como um machista ou um conservador, mas sinto que preciso dizer algo:
    O texto desmonta a concepção de amor romântico criada pela sociedade, mas é um tanto vago em dizer como seriam as formas mais coerentes e éticas de expressar, em relacionamento aberto ou fechado, o amor genuíno, igualitário e realmente companheiro. Os primeiros parágrafos deixam a entender, pra alguns, que o sentimento do amor "sempre" é baseado numa relação de dominação e submissão.

    Eu procuro abrir minha mente pra textos assim, mas sinto que ele ficou dúbio no que tange a falar do amor e da paixão enquanto sentimentos. Dá margem a interpretações (equivocadas, claro) de que não pode existir sentimentos genuínos a aproximar duas ou mais pessoas, e que todo amor romântico é uma falsidade que gesta uma relação de domínio masculino e submissão feminina. Daí eu gostaria de saber, com uma clareza maior: o que é o verdadeiro amor de namorad@s?
    (Essa dúvida se torna ainda mais cruenta pra'queles que nunca namoraram de verdade, como eu)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Bom, primeiro ela usa amor entre aspas, pra ficar subentendido que é "amor" e não amor.

      Depois ela fala: "Por isso esse “amor” não é amor. É dependência, é necessidade, é medo da solidão, é masoquismo, é uma utopia coletiva, porém não é amor."

      E no final, ela explica bem quais seriam as formas de construir relacionamentos nos quais o amor prevaleça. "É necessária uma mudança social, cultural, econômica e sentimental. O amor não pode estar baseado na propriedade privada, e a violência não pode ser uma ferramenta para solucionar problemas. As leis contra a violência de gênero são muito importantes, porém precisam vir acompanhadas de uma mudança em nossas estruturas emocionais e sentimentais. Para que isso seja possível temos que transformar nossa cultura e promover outros modelos de relacionamentos amorosos que não estejam embasados em lutas de poder para dominarmos ou nos submetermos. Outros modelos de femininos e masculinos que não estejam embasados na fragilidade de umas e na brutalidade de outros."

      Acho que isso esclarece bem. Se existe amor verdadeiro? Sim. Estar junto de alguém nessa caminhada, respeitando, crescendo, fazendo trocas, numa relação igualitária, ainda que acabe, que os caminhos se separem, se não for amor, não sei o que pode ser.

      Acho que você talvez esteja confundindo amor com metade da laranja. rs.

      Excluir
  10. E eu esqueci de perguntar no comentário anterior: Existe amor romântico de verdade? Um homem ou uma mulher podem ser altruisticamente românticos?

    (essa pergunta apareceu também por causa da ambiguidade do texto ao falar do "amor errado" que é o modelo de amor romântico fomentado pela mídia e contrastá-lo com um "amor certo" fracamente descrito)

    ResponderExcluir
  11. Cara, eu acho que todas as coisas descritas no texto, acontecem. O amor romântico pode realmente servir como instrumento de dominação. Respondendo à pergunta do Robson, creio que o amor que é "vendido" pela mídia, não existe. Mas execrar o romantismo é outra coisa. Fico imaginando como seria o mundo sem a possibilidade de que duas pessoas, independente de orientação sexual, se apaixonem. Ora, vivo um relacionamento que já dura 12 anos, monogâmico. Somos pessoas sensatas e não há relação de submissão por causa de gênero, mas repito: escolhemos a fidelidade. E nos amamos cada dia mais. A minha felicidade, obviamente, assim como a da esposa, não reside apenas no relacionamento. Temos vida profissional, etc. Não idealizamos como seria o parceiro perfeito. Mas a nossa vida seria muito sem sentido longe de nosso relacionamento. É muito bom partilhar coisas, sucesso, alegria, dar e receber apoio quando o outro precisa. Como seria o mundo sem a possibilidade de amor? E ficar simplesmente dizendo contra o que chamam de "amor romântico" é induzir à impossibilidade de que o amor se realize entre duas pessoas. De vez em quando me pergunto se esse tipo de post não seria escrito por algum adolescente. Ele (a) sente necessidade de se relacionar com o maior número de pessoas possível e defende a poligamia, o fim do amor, sexo exclusivamente casual, em benefício próprio. Sei lá... não gostaria de viver num mundo absolutamente sem graça. Não pactuo com sentimentos de posse ou submissão, patriarcado, mas a felicidade pode sim advir de relacionamentos monogâmicos.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Anônimo, você realmente não entendeu o post. Ele é uma crítica ao mito do amor romântico que reduz o que a gente entende como um relacionamento amoroso a monogamia e heterossexualidade compulsória e a submissão da mulher, a possessividade e afins. O mito do amor romântico muitas vezes é utilizado pra reafirmar diversas espécies de violências contra as mulheres, por exemplo: um cara ligar o dia todo pra namorada querendo saber o que ela tá fazendo é considerado romântico e não um comportamento abusivo e possessivo, sabe?

      A crítica do texto é a idéia de só existe amor num relacionamento fechado e com a presença de ciúme. É uma crítica também aos sacrifícios que muitos fazem "por amor", ou melhor, que as mulheres fazem pelo que se chamam de amor.

      Eu vivo um relacionamento monogâmico, mas não posso pegar minha experiência e dizer que toda monogamia é linda e não opressiva, sendo que eu conheço a relação da monogamia com a opressão contra as mulheres. Nem todo relacionamento monogâmico é opressivo, mas isso não quer dizer que não se pode criticar o modelo de tradicional de relacionamento que é monogâmico e heterossexual.

      Excluir
  12. Thaís, obrigado por sua resposta. Compreendi perfeitamente o post - até porque está muito bem escrito, se me permite dizer. Concordo com todas as coisas do post e que você reiterou no comentário acima. Acredito que qualquer que seja o tema, realmente é passível de "crítica ao modelo". O único ponto discordante, na verdade, é quando você se refere ao amor (seja monogâmico, heterossexual, homossexual - isso não importa) como "mito do amor romântico". Ora o romantismo não significa diretamente "amor fechado num relacionamento com presença de ciúmes", "opressão", "submissão" de alguma das partes (na maioria quase absoluta é claro que o patriarcado leva são as mulheres à condição de submissa e oprimida, infelizmente). O "amor romântico" não é aquele que a mídia toma para si e traduz em novelas, séries etc. Aquilo lá é outra coisa. É um tipo de amor idealizado por uma sociedade machista e patriarcal e que, infelizmente, muita gente confunde com romantismo. Na minha opinião, sem o verdadeiro romantismo (não o pintado pela mídia e etc.), a gente passa a ter relacionamentos por contrato. Perde o sentido estar em um relacionamento se não há algum romantismo entre os parceiros. Um jantar que se combine do nada, um cinema, uma "balada" de última hora. Romantismo não implica diretamente sacrifício, embora um relacionamento, sim, muitas vezes, envolva adaptações, que devem ser mútuas. Sou meio bobo, acho. A minha esposa também. Temos o respeito como base do relacionamento, mas somos românticos. O amor se expressa em cada pequeno gesto no dia a dia e sem isto perderia completamente o sentido. O mundo ficaria sem graça. Mas você está certa em dizer que isto pode sim ser usado por ignorantes e preconceituosos como instrumento de submissão. O post, no entanto, expressa isso transformando o "amor" (amor romântico, se preferir), como o inimigo a ser derrubado.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O amor é uma construção social e criticá-lo faz com que a gente critique a palavra amor, mas isso não quer dizer que haja uma desqualificação dos amores saudáveis e não abusivos.

      Excluir
  13. Da maneira como foi dito no post, sim há a desqualificação de qualquer "amor romântico", tanto o abusivo, quanto o saudável.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O mito do amor romântico se sustenta em ideais que caracterizam o que se entende como relação abusiva. Só que amor não é necessariamente o que o mito do amor romântico diz que é, entendeu agora? Logo, o texto não odeia o amor saudável, ele prega contra o amor abusivo.

      Excluir
  14. Mas, complementando, apesar de usar sempre a expressão "amor romântico" ao fazer críticas, reduzindo a "amor" no momento de dizer o que seria ideal (ou seja: se referir a um relacionamento saudável sempre no campo da possibilidade e não da realidade, como se ainda não existissem relacionamentos livres de envolvimento de opressão e submissão), apesar desses pequenos detalhes, o texto é excelente e traz de modo competente o debate. O que eu disse nos comentários acima nem chega a ser crítica, apenas observações que fiz movido por impulso. Sou defensor das gentilezas sem segundas intenções, romantismo, ao mesmo tempo em que procuro me colocar de maneira favorável ao feminismo e mesmo escrevo sobre o movimento. Uma vez que visito há tempos este blog e pela primeira vez fui movido ao debate, portanto, o texto está cumprindo o seu papel.

    ResponderExcluir
  15. Jesus esse é o melhor texto que eu já li na minha vida

    Camila.

    ResponderExcluir
  16. Texto perfeito...
    Vi uma publicando no facebook a seguinte frase:
    "O amor romântico mata"
    e na hora vim pesquisar, porque me veio várias perguntas sobre essa frase.
    E seu texto relatou e respondeu todas as minhas preguntas.
    Obrigada!

    ResponderExcluir
  17. Texto perfeito...
    Vi uma publicando no facebook a seguinte frase:
    "O amor romântico mata"
    e na hora vim pesquisar, porque me veio várias perguntas sobre essa frase.
    E seu texto relatou e respondeu todas as minhas preguntas.
    Obrigada!

    ResponderExcluir
  18. Texto perfeito...
    Vi uma publicando no facebook a seguinte frase:
    "O amor romântico mata"
    e na hora vim pesquisar, porque me veio várias perguntas sobre essa frase.
    E seu texto relatou e respondeu todas as minhas preguntas.
    Obrigada!

    ResponderExcluir