quarta-feira, 4 de abril de 2012

Fratura exposta, sentimento oculto.

Quando minha filha chora muito em outro colo e se acalma no momento em que eu a pego, dizem que está de “manha”. “Isso não é choro, isso é manha”. Para essas pessoas só devem ser atendidas as necessidades básicas: Fome, frio e dores físicas. As dores emocionais, como a saudade da mãe, a necessidade do colo são tidas como desimportantes e devem ser ignoradas gradualmente de forma que a criança se acostume com elas.


Esse desprezo pelo lado sentimental humano se inicia na infância e perdura por toda a vida. O nome “manha” passa a ser “drama” e continua não devendo ser atendido. Muito disso se dá pelo fato de que por muito tempo relacionamos os sentimentos a um conceito abstrato. As dores emocionais foram sempre vistas como “dores da alma”, quando na verdade, o responsável por estas é exatamente o mesmo que causa as dores físicas: o cérebro. São muito recentes os estudos que se dedicam a compreender a área do cérebro associada ao nosso lado emocional.

É uma forma, também, de desde o começo nos fazer engolir a “civilização” e sair de nosso estado primitivo. A emoção é inerte e quase que animalesca, dar vazão ao que se sente significa admitir nosso lado primário e por isso é algo tão desestimulado. Os sentimentos são sempre vistos de forma vergonhosa, demonstrar tristeza, angústia, frustração ou mesmo amor é sinal de fraqueza.

Além disso, é improdutivo que tenhamos emoções. Em um sistema de produção que compreende que tempo é dinheiro, é muito mais funcional que nos mostremos maquinários. Dessa forma robotizada não temos falha alguma aceitável que não nossas “peças”.

É um absurdo, por exemplo, que tenhamos direito a quantos dias de atestado a medicina julgar necessários, porém legalmente só nos dão direito a dois dias (!) de luto diante da morte de parentes em primeiro grau. Como estipular um prazo – e tão pequeno – para a superação de uma perda? Por que não podemos trabalhar com uma perna machucada, mas está ok ignorar a dor causada por algo como a morte de uma pessoa próxima e querida?

Ignorar esse tipo de dor é prejudicial a saúde. A depressão já é hoje considerada a doença do século e continuará a aumentar quanto mais considerarmos vergonhosa a expressão do que sentimos e, por consequência, quem verdadeiramente somos.

Não se trata de estimular a vivencia empírica e irracional de nossas experiências. Pelo contrário, os recentes estudos na área da inteligência emocional demonstram que a valorização dos sentimentos humanos desde a primeira infância estimula o aprendizado e permite que as outras partes do nosso cérebro se desenvolvam melhor. Trabalhando o ser humano por completo conseguimos um crescimento pessoal plural nos mais diversos campos do nosso ser.

A criança que tem suas necessidades emocionais atendidas e supridas cresce um adulto com autoestima, mais independente, feliz e capaz de lidar com o que sente. Tanto os sentimentos positivos quanto negativos devem ser escutados, jamais ignorados e abafados. Dando a devida atenção às emoções conseguimos canalizá-las de maneira benéfica e produtiva para nós mesmxs e para o mundo ao nosso redor.


4 comentários:

  1. Parabéns pelo texto e, especialmente, pela sensibilidade.
    bjo

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  2. per-fei-to!
    mais "fácil" do que acolher, entender, sistematizar e 'sentir', é aniquilar a dor. aprendi com meus filhos que acolhê-los junto ao meu corpo é tudo que eles precisam para crescer de maneira segura e autônoma.
    adorei o texto e penso exatamente assim: bebê para de chorar no colo da mãe, porque colo de mãe é o melhor lugar do mundo!

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