Me preocupa a forma que as revistas destinadas ao público feminino falam sobre sexo. As principais chamadas são “Como agradar o seu parceiro?”, “Descubra o que os homens gostam na hora H” e coisas do tipo.
O prazer feminino é sempre deixado de lado e quando é falado se resume ao orgasmo. E pra ilustrar o quanto a qualidade essas reportagens anda ruim, já vi numa dessas revistas até um manual para mulher aprender a fingir orgasmo. (Afinal, o orgasmo feminino muitas vezes assume o significado de uma prova da virilidade masculina, uma amostra do poder dele. Ou seja, até mesmo o orgasmo feminino é visto como algo pra agradar o homem).
O prazer feminino é sempre deixado de lado e quando é falado se resume ao orgasmo. E pra ilustrar o quanto a qualidade essas reportagens anda ruim, já vi numa dessas revistas até um manual para mulher aprender a fingir orgasmo. (Afinal, o orgasmo feminino muitas vezes assume o significado de uma prova da virilidade masculina, uma amostra do poder dele. Ou seja, até mesmo o orgasmo feminino é visto como algo pra agradar o homem).
Coerção/coação não é consentimento |
A invisibilidade do desejo sexual feminino e o tratamento dele como algo sem importância é rotineiro e revoltante, mas além dele me preocupa também esse discurso que o sexo é um instrumento para a mulher conseguir o que quer e manter um relacionamento. Parece que nenhuma mulher pode realmente gostar de sexo. Mais uma vez nos deparamos com a questão de “feminilidade” e da “masculinidade”. O sexo para a mulher seria algo íntimo, afetivo, enquanto que para o homem seria uma forma de se provar másculo e viril. As revistas femininas colocam o sexo como uma obrigação numa relação heterossexual, a obrigação parte da ideia de que a mulher precisa daquele relacionamento, precisa do afeto, do carinho, enquanto o homem precisa do sexo em si. E todo o relacionamento heterossexual parte (supostamente) dessas “diferentes necessidades”. A mulher oferece sexo para ter carinho e afeto, enquanto o homem oferece o carinho e o afeto para ter sexo.
O consentimento feminino é tão manipulado que até a hora de dizer sim ou não para o sexo é ditada pelas revistas. Sexo no primeiro encontro é repudiado, muitas vezes a mulher adia o sexo com medo de ser mal vista, conforme as dicas das revistas afirma que vai acontecer. A sociedade diz "a mulher não deve se entregar aos seus desejos sexuais" porque isso mancharia a reputação dela. E a "hora do sim" que deveria ser quando os dois querem, sentem desejo e tesão é transformado pela sociedade patriarcal em o homem quer e a a sociedade acha que tá tudo bem, ou seja, quando a mulher já tem "o respeito" dele. Por exemplo, dentro de um relacionamento sério considera-se que a mulher deve fazer sexo quando o cara manifestar vontade ou será trocada.
O desejo sexual feminino é considerado como um apêndice do desejo sexual masculino. E toda mídia coloca a boa namorada/boa esposa como uma mulher que não nega fogo, que entende os desejos sexuais do marido e cede. E eu me pergunto onde está o nosso consentimento quando essas revistas tratam o sexo hétero como uma obrigação num relacionamento. Se uma mulher faz sexo com o parceiro porque teme ser largada, trocada, traída, tem algo muito errado ai, se uma mulher se depila de uma forma que ela não gosta porque o parceiro pede, tem algo errado ai. Se a mulher cede e faz posições que não gosta pra agradar o parceiro, tem algo errado ai.
Não é consentimento se você me faz ter medo de dizer não. |
Numa sociedade que explora, produz e intensifica as inseguranças femininas, principalmente em torno do corpo e do padrão de beleza e é heteronormativa e monogâmica, esses depoimentos tem um poder de coação enormes. Se nós mulheres sentimos que seremos trocadas ao recusar sexo e fazemos sexo sem vontade, não há consentimento.
boa e necessária reflexão. o problema não é o sexo hétero, o problema é essa questão do consentimento feminino ser muito influenciado pela cultura. acho que todas as pessoas devem refletir a respeito dessa temática.
ResponderExcluirlívia
Lívia, o problema não o sexo hétero mesmo, até porque casais de outras orientações sexuais muitas vezes reproduzem essa mesma lógica da dominação masculina.
ExcluirA questão é justamente todxs nós questionarmos a respeito do nosso consentimento nas nossas relações, porque talvez a gente mesmo sem querer reproduza essas ideais tão nocivas à nossa autonomia.
Excelente texto, para variar.
ResponderExcluirA revista voltada para o público feminino que eu assino posta, quase sempre, matérias relacionadas a sexo com uma visão feminista. Nunca vi essa questão de "agradar o parceiro" e, se não me engano a penúltima edição, trouxe uma matéria enorme sobre vibradores e masturbação feminina. E no pouco tempo de assinatura que eu tenho, é a segunda vez.
Pra mim TODAS tinham que ser assim, mas a gente sabe que né.. Então a saída é realmente a conscientização (em massa) do que é consentimento, de como a manipulação/coerção estão escancaradas em coisas que fazem parte de nosso dia a dia e nem nos damos conta... e seu texto faz isso brilhantemente. Compartilharei :)
Obrigada pelo comentário, Gabee! :)
ExcluirTinha me esquecido de ler esse! Muito esclarecedor. Até onde vale o "sim" que nós dizemos? Até onde o sexo tá sendo feito a dois (voces entenderam) na nossa sociedade? Tem que ver isso aí!
ResponderExcluirQue as mulheres sejam sempre lembradas que não há nada mais gostoso que viver e explorar sua sexualidade de forma saudável, consensual e tranquila. (:
Obrigada pelo comentário, Carol!
ExcluirMuito bom o texto, infelizmente real,mas é assim mesmo que se colocam as coisas .Eu diria até que é uma idéia tão cansativa e tão exigente em cima das mulheres que muitas, como eu, temos a impressão de que os homens são naturalmente insaciáveis, missão impossível para qualquer mulher que não seja ninfomaniaca.
ResponderExcluirMas sempre me questiono uma coisa, a midía coloca de uma maneira, os homens confirmam e as mulheres ?São elas que consomem essas revistas e se submetem a todas essas coisas, esta na hora de começar a acorda para a vida e perceber que são manipuladas e usadas como brinquedos.
Verdade, Iara. O problema é o machismo internalizado. A gente passa a vida sendo tolhida da nossa sexualidade. Lembro-me de quando era criança e minha mãe já dizia: "Menina não senta de perna aberta". Nossos comportamentos são tão condicionados, desde tão cedo, que é difícil para muita gente conseguir sequer questionar.
ExcluirNão sei se os homens confirmam, porque eles são obrigados a confirmar. A construção da masculinidade se baseia nessa ideia de que homens estão sempre querendo sexo, porque quanto mais sexo eles fazem, mais "homem" eles são, para a sociedade, claro.
ExcluirNunca gostei dessas revistas voltadas ao público feminino( Cosmopolitan, Marie Claire, Vogue), são apenas manuais de como agradar os homens, ou seja, são revistas que ,"veladamente", incutem o machismo nas mentes das mulheres.
ResponderExcluirA BUST é uma boa revista feminina. Recomendo, pra quem lê em inglês. :)
ResponderExcluirTexto sensacional.
ResponderExcluirtoda mulher, seja heterossexual ou não, deveria ler esse texto! realmente no sexo hétero essa dinâmica deve ser mais presente, mas essa coação também existe em relações lésbicas infelizmente, porque a sociedade inteira normatiza esse tipo de comportamento e essa naturalização só contribui para que a coação seja vista como algo ok também entre mulheres.
ResponderExcluirA dinâmica da dominação realmente se repete em relacionamentos lésbicos. :/
ExcluirTenho que parabenizar esse blog por colocar legendas nas imagens <3
ResponderExcluirA gente tenta, às vezes acabamos esquecendo, mas sabemos que é importante. Obrigada pelo parabéns. :D
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