Eu sou a heroína dessa história, eu não preciso ser salva. |
Independentemente do acontecimento, se há mulheres envolvidas, a mídia dá um jeito de eleger uma musa. A musa está em todas as pautas: há a musa do futebol, a musa do basquete, a musa dos bandeirinhas, a musa do rock, a musa do Congresso Nacional e até a musa de manifestação feminista.
Ser chamada de musa, embora pareça um elogio, colabora com a manutenção das mulheres no lugar estipulado para elas pelo patriarcado, ou seja, reafirma que a mulher pode até ser cientista, política, professora, atleta, ativista, mas o que importa é que ela seja bonita, um enfeite. A principal função feminina é embelezar o ambiente. Ser uma boa profissional, ser idealista e lutar pelo que acredita não importa, importa se ela está dentro do padrão de beleza e se os homens héteros a acham atraente.
Destaca-se que a palavra musa também carrega em seu significado a capacidade da mulher "dona" desse título de inspirar a produção intelectual de quem a admira. A sociedade (que supõe que mulheres só se relacionam com homens) coloca a mulher tão inferior ao homem que considera que ela não produz, o máximo que ela pode fazer é auxiliar a produção de conhecimento e arte sendo um "colírio" ao olhar masculino.
Além disso, a autoestima feminina é detonada pelas contínuas cobranças para estar dentro de um padrão de beleza fantasioso e excludente. A possibilidade de ser considerada uma musa é uma cobrança acessória do próprio padrão de beleza que se fantasia de "prêmio". Ser musa é ter um combo de "qualidades" para o patriarcado, ser bonita e ter a capacidade de inspirador o outro. Esse combo de cobranças alimenta essa fantasia de querer ser linda, musa, diva, gerando infelicidade e frustração em mulheres de todas as idades.
Não posso ser a mulher da sua vida porque já sou a mulher da minha. |
Bom, fazendo um paralelo com o que foi falado, pode-se trazer isso para o Brasil, a imagem da Dilma foi muitas vezes "amaciada" com o uso de sua presença em programas como o da Ana Maria Braga, que é considerado "feminino". Durante uma reportagem do Fantástico feita pela Patrícia Poeta, houve perguntas bem pessoais, a respeito até mesmo sobre os netos e sobre a rotina "feminina" da presidenta. Ao mesmo tempo que vejo essas reportagens como uma possibilidade de se aproximar do público, conquistar eleitores e afins por parte da Dilma, vejo que a mídia trata essa "aproximação com os ideais de feminilidade" como uma forma de "colocá-la" no lugar e mostrar para as mulheres que mesmo ela, mulher poderosa, ainda gosta de cuidar da casa e da família, reafirmando assim os papéis de gênero. E mesmo o uso desse tipo de programa como uma possibilidade de se aproximar do público mostra como a sociedade é machista, se uma mulher num cargo político se mostra pouco feminina, ela tem que mostrar que não é bem assim e que ela preserva a feminilidade dela de alguma forma pra assim conseguir respeito e possibilidade de ser eleita. Ainda sobre o mesmo assunto, a gente vê que a mídia sempre faz perguntas sobre vaidade, família e afins para mulheres em cargos tipicamente masculinos. "Como faz pra manter a feminilidade num ambiente desses?" é a pergunta padrão.
No caso das atletas, a invisibilidade do esporte feminino coloca essas mulheres como vítimas ainda maiores dessa objetificação, visto que essa forma de tratamento da mídia coloca o título de musa como uma das únicas formas de visibilidade. Assim, o tratamento da mídia condiciona os patrocínios e a própria valorização do esporte ao uso de roupas que exibem as formas das atletas e que são "femininas".
Eu não sou feminista, mas ficar aqui sendo um objeto decorativo é um pouco chato. Na verdade, eu realmente sou uma feminista. |
O patriarcado e o capitalismo tem uma parceria que "vende" a mulher segura e bem sucedida, como uma mulher que é mãe, dona de casa e sua profissão e tudo isso sempre bem arrumada, vinculando a vaidade à autoconfiança e à capacidade. Uma mulher não arrumada, é uma mulher que sem valor para o mercado de trabalho (e para toda a sociedade). E enquanto isso, a autoestima feminina só perde.
rachei com essa bolinha de natal feminista <3
ResponderExcluircara, a midia é foda. "musa da cpi", "gangue das loiras", "gangue das gordas". sério, gente, é foda. nunca vi GANGUE masculina chamada "gangue dos magrelos" ou "gangue dos oxigenados".
mais um texto maravilhoso do blog <3
amei o texto e isso me lembrou essa reportagem que achei quase sem querer.
ResponderExcluirhttp://virgula.uol.com.br/ver/noticia/esporte/2012/07/11/304161-musa-da-selecao-de-volei-jaqueline-nao-quer-ficar-conhecida-pela-beleza
Mari
O documentário Miss Representation foi retirado do youtube! Que pena!
ResponderExcluirSe vocês arrumarem outro link, editem ai pra gente!
Achei um link novo e editei o texto com ele!
Excluirhttp://vimeo.com/37703485
Adorei o texto =]
ResponderExcluirIsso é reflexo da cultura patriarcal, onde o Feminino foi enterrado pra dentro do nosso inconsciente, lá pro submundo... Precisamos despertar como indivíduos ao invés de representar papéis arquetípicos de gênero e assim construirmos uma sociedade mais igualitária , pacífica e justa, onde as mulheres tenham participação e decidam igualitariamente com os homens.
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