segunda-feira, 19 de março de 2012

Ativesevocêtambém.com



Sabem que há algum tempo surgiu essa loucura chamada internet, não é? E com muita sorte – e políticas públicas para inclusão digital – a bichinha se popularizou e ainda tem popularizado cada dia mais. Isso é exatamente o que permite que você esteja lendo esse meu texto agora, mesmo que eu nunca tenha te visto na minha vida. Loucura, né?

Querendo ou não, a internet é uma tremenda forma de democratização da informação (embora ainda não seja acessível para todos), no sentido de que não aumentou apenas a quantidade de pessoas que escuta, mas sim a que fala. A internet tirou das mãos da grande imprensa a possibilidade de nos informar ao seu bel-prazer e nos permitiu não só conhecer mais sobre mais assuntos, mas também fazer os assuntos. Aqui nós pautamos.
Os chamados “ativistas de internet/sofá” usam a rede de uma forma útil e produtiva para disseminar suas ideologias, fortalecer sua causa e argumentar a favor delas. Essa “modalidade” de ativismo tem sido alvo de diversas críticas. Acredita-se que falam muito, mas que na “vida real” não estão fazendo nada sobre o assunto, nada “para mudar de verdade”.

Ok, então vamos conversar: Primeiro que já passou da hora dessa dicotomia entre mundo real x mundo virtual deixar de existir, não é minha gente? Por favor, já está claro que vivemos em uma época histórica em que as duas coisas se fundem e o mundo como conhecemos hoje só existe dessa forma. O virtual e o real não existem, ambos influenciam, espelham e interferem um no outro. Para mim funciona como se colocassem em dois pólos distintos a “vida” e a “arte” (e por arte aqui entendam todas as possibilidades de manifestação desta), não é óbvio que eles não só influenciam um no outro como coexistem de forma homogênea? Pois é.

Além disso, quem critica essa forma de ativismo está se esquecendo de algo primordial: O poder do discurso. Minha gente, vocês estão achando que um dia as mulheres se encontraram no meio da rua e rolou um “então, não to fazendo nada, vamos ali queimar os sutiãs?” NÃO GALERA. Antes disso elas falaram. E falaram muito. A gente modifica o mundo ao nosso redor quando começa a questioná-lo e a melhor forma de questioná-lo é falando, perguntando, trocando informações e por fim, claro, disseminando, compartilhando, porque o povo tem poder. Ou seja, qualquer manifestação e mudança que não tenha caráter ditatorial só acontece depois das pessoas falarem muito a respeito.

O discurso é a base da educação, ele é o que dissemina informação, conhecimento, fortalece ideias ou mesmo preconceitos. O corpo e a voz são as armas mais poderosas que nós temos, vide censura como forma de controle. Não é só o que alguém faz que pode ameaçar a hegemonia dominante, caso fosse nossa ditadura militar não teria se dado ao trabalho de proibir músicas, poesias e outras formas de expressão. Tudo isso demonstra o quanto um discurso é poderoso, feito em suas mais variadas formas.

Ora e se a internet é hoje a melhor forma das pessoas compartilharem sua opinião de maneira massiva (atingindo maior número de pessoas em menos tempo), por favor me expliquem qual o erro em discursar por meio dela? Ativismo de sofá nada mais é do que a fala de anos atrás no mundo de hoje. Quem fica atrás de um computador digitando o dia todo está sim fazendo muita coisa pela sua causa. Está disseminando as dúvidas e as conclusões a respeito de um determinado assunto e, por consequência, fazendo aqueles que acessam o que foi dito por ele se questionarem também. E, como eu já disse, esse é o princípio da mudança do mundo (por mais utópico que isso possa soar).

Luta é fenômeno interespacial: Revolução nas ruas, nas praças, nas casas, nas camas e na rede.

16 comentários:

  1. adoro o nome do blog de vocês, muito criativo e crítico e esse texto ficou foda!

    Mari

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  2. "Os chamados “ativistas de internet/sofá” usam a rede de uma forma útil e produtiva para disseminar suas ideologias, fortalecer sua causa e argumentar a favor delas."

    Quer dizer então que o resto dos internautas (os não sofativistas) usam a Internet de forma inútil? A arrogância dessa frase foi a mil, camaradinha.

    Ah, esses sofativistas acham que vão mudar o mundo sem mexer seu traseiro gordo.

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    1. Não, não quer dizer "que o resto dos internautas (os não sofativistas) usam a Internet de forma inútil". Quer dizer, exatamente, o que disse: que a internet também é um meio de popularizar causas sociais e encontrar adeptos. Você que está distorcendo a intenção do texto.

      Ninguém é obrigado a ser engajado socialmente, mas seria melhor se todos fossemos e a rede social é uma ótima forma de conscientizar as pessoas. (essa ideia é minha e não do texto, tá?!)

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  3. Não entendo esse ódio que as pessoas tem por ativistas, sejam de sofá ou não. É difícil demais entender que discutir um assunto, se questionar, propor debates é uma forma de mudar o pensamento de algumas pessoas e assim revolucionar um pouco a vida?

    O mesmo que julga quem tem blog, faz podcast ou qualquer coisa do tipo, julga também a pessoa "que mexe o traseiro" e vai pra marchas, faz trabalho voluntário... Não dá pra entender esses haters, viu?

    E o mais engraçado é que eles acham impossível uma pessoa escrever num blog, valorizar troca de informação e a pessoa fazer qualquer ativismo no mundo "físico".

    Acabei de descobrir o blog de vocês com uma ask de comentário negativo que rolou no Classe Média Sofre.

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  4. "Ok, então vamos conversar: Primeiro que já passou da hora dessa dicotomia entre mundo real x mundo virtual deixar de existir, não é minha gente?"

    Não. Não é não. Você vive aonde, no mundo real ou no mundo virtual? O dinheiro que você ganha é real ou virtual? As dívidas que você tem que pagar são reais ou virtuais?

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    1. Você sabia que você pode pagar suas "contas reais" em bancos virtuais? Mágico, não? Você sabia que você pode comprar coisas pela internet que elas chegam na sua casa real? INCRÍVEL, NÃO? Você sabia que o que você escreve num blog pode fazer uma pessoa ler e repensar no cérebro real dela? ASSUSTADOR!!!!!!

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    2. E a bolsa de valores, heim?! Lidando com dinheiro "virtual" o dia inteiro, esqueceram de avisar pra eles que aquela grana toda não vale nada e que não pode ser trocada por dinheiro real.

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    3. Não posso esquecer de falar pra minha mãe que agora só mando notícias através de cartas, porque as informações no meu e-mail são "apenas virtuais".

      Internet não é um universo paralelo onde a gente joga um monte de coisa, fecha o portal e tem certeza de que tudo vai ficar quietinho lá dentro. Internet é a nova caixinha (armário!) de lembranças onde a gente põe nossas fotos, textos, desenhos, jogos, cartas, zines e o que mais quiser. E, de quebra, a gente ainda pode dividir tudo com o mundo inteiro.

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    4. "Você sabia que você pode pagar suas "contas reais" em bancos virtuais? Mágico, não? Você sabia que você pode comprar coisas pela internet que elas chegam na sua casa real?"

      Ah tá. E você quer comparar os atos de fazer transferência, pagar conta, ver saldo bancário e fazer compras com fazer política e fazer ativismo. JÊNEA!!

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    5. Para fazer política e ativismo é necessário questionar, informar, dialogar, por que redes sociais não ajudaram nisso, JÊNIO?

      A palavra tem poder.

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  5. Gostei do blog. A linguagem é simples, direta e honesta.

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  6. Acabei de ler este texto : http://www.sobrepsicologia.com.br/artigos/os-herois-do-facebook.html
    Pra mim as pessoas se incomodam quando algum assunto sério é debatido porque tem preguiça de aprender, sabe? Ou se acham donas da verdade e nós, ativistas (seja de sofá ou não), sempre seremos criticados...¬¬

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  7. As vozes dos sujeitos que se valem de avatares nas redes sociais podem sugerir "falas egocêntricas" em multilexias. O impacto da justaposição de doxas na percepção singular dos usuários muitas vezes aparentam cumprir função intercomunicativa embora tratando-se de descarga afetiva ou de "drama" intrapsíquico vazado. O assunto é fascinante e requer aprofundamento de estudos. Uma boa provocação. Parabéns!

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    1. Muito bom o comentário. E ficaria melhor se fosse traduzido para o português.

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  8. Muito me surpreende essa galera que contrapõe os ativismos e sempre termina por concluir que a manifestação virtual em favor de uma causa, aquela cujos idealizadores e/ou propagadores não vão às ruas, levantando cartazes et coetera, é moralmente inferior à sua contraparte prática. Me faz pensar num cenário bizarro em que os astronautas e engenheiros da NASA hostilizassem mentes como as de Einstein e Hawking porque, afinal, eles nunca "puseram a mão na massa", ou melhor, "o pé na lua", nunca apertaram um parafuso de uma plataforma de lançamento, e que portanto suas ideias em nada contribuíram para o avanço da ciência. "Newton, seu cuzão, bora pra lua participar da passeata para Deus revogar a Lei da gravidade, porra! Fica aí com suas maçãzinhas na cabeça enquanto lá fora a Física acontece, e nos oprime!"

    Bitch, please. Nem melhores, nem piores: complementares.

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  9. Muito me surpreende essa galera que contrapõe os ativismos e sempre termina por concluir que a manifestação virtual em favor de uma causa, aquela cujos idealizadores e/ou propagadores não vão às ruas, levantando cartazes et coetera, é moralmente inferior à sua contraparte prática. Me faz pensar num cenário bizarro em que os astronautas e engenheiros da NASA hostilizassem mentes como as de Einstein e Hawking porque, afinal, eles nunca "puseram a mão na massa", ou melhor, "o pé na lua", nunca apertaram um parafuso de uma plataforma de lançamento, e que portanto suas ideias em nada contribuíram para o avanço da ciência. "Newton, seu cuzão, bora pra lua participar da passeata para Deus revogar a Lei da gravidade, porra! Fica aí com suas maçãzinhas na cabeça enquanto lá fora a Física acontece, e nos oprime!"

    Bitch, please. Nem melhores, nem piores: complementares.

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