Cropped é para todxs! Fonte da foto aqui. |
Às vezes nosso receio de usar determinadas roupas que achamos bonitas, assumir certas preferências, se comportar diferente do esperado são apenas sintomas de certas prisões que a gente se encontra. Para ilustrar, compartilho uma história boba da minha trajetória para finalmente usar um modelo de blusa chamado "cropped", que é um estilo de mini blusa.
Eu desejei usar uma dessas blusinhas por muito tempo. Via outras pessoas usando e achava lindo, mas sempre arrumava uma desculpa para eu não procurar uma para usar. Sempre afastava a blusinha do pensamento alegando que "esse estilo de roupa é para outras, não combina muito comigo". Por mais que eu afirmasse que não combinava comigo, eu continuava a achar bonito e a querer usar, mas faltava algo. Faltava coragem.
E de repente constatei que a falta de coragem inexplicável era um medo das pessoas constatarem que eu não era uma "moça tradicional", a famosa "moça de família". Eu percebi que dentro de mim ainda há diversos fragmentos da tradicional família mineira e um deles era esse medo inconsciente de ser "confundida" com uma vadia. E eu que já há muito tempo digo que roupa não define caráter, que um vestido curto é só um vestido curto e eu que sempre usei shortinhos e vestidinhos pra sair me vi numa prisão que já imaginava ter me livrado a tempos.
A história é sempre a mesma: a gente deixa de passar um batom vermelho que achamos lindo com medo das pessoas acharem que somos vulgares, a gente abandona o shortinho, a blusinha, o vestidinho, as cores fortes. A gente segura as estribeiras na hora de dançar, rir, chorar. E devagarinho, quase sem a gente ver, a gente tá abandonando uma vida inteira de pequenas coisas. Tudo que a gente gostaria de fazer, mas teme, vai ficando para trás.
Há também aquela vontade enorme de deixar de fazer algo que encontra muitas vezes até mais resistência da nossa parte e da sociedade. Um exemplo é a depilação: muita gente não gosta de se depilar, sente dor, tem alergia, se coça toda, mas continua fazendo por receio. Por medo de ser julgada, ser ofendida e por sentir que se achará feia sem se depilar e etc. Enfrentar ou não esses nossos receios é uma decisão que devemos tomar conhecendo bem as origens desse medo e também o tamanho da vontade de dizer sim ao que você quer fazer.
Enquanto isso, se você procura "cropped" no google, há dezenas de textos explicando "como usar". E eles criam regras e mais regras, "proíbem" certos corpos de usarem, zombam de quem é diferente do padrão de beleza e usa peças proibidas mesmo assim, colocam limites do quanto você pode mostrar e repetem a exaustão a famosa frase "assim você fica sexy, sem ser vulgar".
E onde quer que você vá, você vai encontrar regras e mais regras de como usar determinadas roupas, quem pode usar, o que é bonito, o que é feio, o que é anti-higiênico, o que é vulgar, e por ai vai. E de tanto ouvir essas estúpidas regras, a gente se abandona.
Bons links: Documentário "My body, my hair" (Meu corpo, meu pêlo) sobre mulheres que decidiram manter seus pêlos corporais filmado em Londres, Inglaterra.
É isso aí. Esclarecedor.
ResponderExcluirAi, super verdade! QUANTA coisa eu deixo de fazer só por medo da repercussão!!!!! Muito bom o texto, muito fresco, leve, despretensioso e inteligente! Grande abraço!
ResponderExcluirGrande texto e excelente reflexão!!
ResponderExcluirTexto delicioso de ler!
ResponderExcluirAcredito que isso seja importante:
http://br.mulher.yahoo.com/blogs/preliminares/cultura-estupro-medidas-paliativas-governo-e-redes-sociais-104922487.html
Linda reflexão!
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