Recebemos o pequeno texto abaixo de uma leitora do AdS e achamos extremamente pertinente. Ela trata, basicamente, do pouco alcance que o feminismo atual tem na vida de mulheres que se encontram em estado total de vulnerabilidade. É justo lembrarmos da Marcha das Margaridas, que celebra, no dia 12 de agosto, o Dia da Luta Contra a Violência no Campo. O trabalho da MdM é louvável, e por reconhecermos que faz-se urgente um alcance maior na vida dessas mulheres, recomendamos a leitura do texto, para que possamos, juntas, refletir a respeito e buscar mecanismos de ação nessa área. Sintam-se à vontade para trazer aqui notícias de coletivos que já se empenham nessa área, pois é preciso dar visibilidade a tais coletivos.
Fiquem então com o texto da Lerysse Scolimoski, estudante de veterinária e militante feminista intersecional. Lerysse faz parte do coletivo da Marcha das Vadias da sua cidade e de uma próxima.
Sou do interior e esses dias estava na rodoviária quando vi uma família rural humilde, o casal heteronormativo com seus vários filhos. Até aí tudo tranquilo, claro, desde que isso tenha sido escolha e não monogamia compulsória e falta de planejamento familiar (decorrente de pouca informação).
Então lembrei da minha família, minha avó, já falecida e da sua triste vida rural. Ela teve de se casar, teve muitos filhos, pois a informação de controle e planejamento familiar não lhe alcançaram e foi socialmente obrigada a permanecer no seu casamento infeliz. Dentro deste casamento infeliz, ela apanhava frequentemente do meu avô, o qual era alcoólatra. E se submetia a uma vida de agressões verbais e físicas, sem opção. Sem saber o que o feminismo é, sem ter opção de escolha pra algo melhor, porque isso não a alcançou.
Então, vi que o feminismo atual está concentrado. Concentrado nas grandes cidades. E que, o que aconteceu com a minha avó, ainda acontece, todo dia, eu vejo isso acontecendo. Toda a vida de inúmeras mulheres que estão à margem, que estão fora do alcance do feminismo das capitais e das cidades mais numerosas. A rotina destas mulheres é a submissão, é o patriarcado, é a misoginia, o machismo, todos os dias, toda a sua vida. E elas não conseguem se libertar, porque a libertação nem as alcança e pelo que vejo, nem tem previsão de alcançar. Devemos nos unir e ajudar xs companheirxs. E devemos nos perguntar: pra QUEM esse feminismo está sendo feito? Porque não vejo o interesse de levá-lo até as populações rurais, aquelas que tem um pedaço de terra pra subsistência à margem das cidades.
A militância deve atingir quem não tem internet, quem não tem saneamento básico, quem não tem condições de ir até outras cidades pela opressão social e patriarcal. A militância TEM DE atingir a todxs.
O que queremos e buscamos é um feminismo intersecional, um feminismo que inclua todxs, que seja um lugar seguro para todxs. E que esteja abrindo espaço, espaços trans*, espaços negros, LGBT, indígenas, espaço para o proletariado e espaço pras mulheres rurais. *
Parabéns Lerysse pelo texto! Excelente e necessária reflexão.
ResponderExcluirMari