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Hoje vamos falar da tal “educação” feminina. Por se tratar de um assunto que nos afeta diretamente, pedimos desculpas pela provável confusão do texto. Isso se deve ao nosso elevado grau de emputecimento. Oh, wait. Nós precisamos mesmo começar um texto falando olha, desculpaê, é que eu estou chateadinha com a maneira como sou forçada a pedir desculpas o tempo inteiro? Assim, por existir? Por estar respirando e ocupando lugar no mundo? Porque é exatamente assim que a gente se sente ao tentar abrir a boca pra falar qualquer coisa. E quando a discussão é dentro do próprio feminismo, amigxs, a coisa se torna ainda mais frustrante. Seguinte: tá rolando por aí um cartaz feminista que reforça a importância do NÃO na vida de uma mulher. Não - uma palavrinha tão simples mas que tem o poder de transformar a nossa vida. Pra melhor.
Parece óbvio que o patriarcado, com todas as suas artimanhas, procura nos forçar a baixar a cabeça e resignarmos com o fato de que certos comportamentos nos são proibidos, por irem de encontro àquilo que seria da "natureza" da mulher. Nesse cenário, o NÃO se configura como algo permitido às mulheres, desde que falado do "jeitinho" certo.
Não vamos entrar na questão de que o movimento feminista é amplo, plural, e portanto abarca diversas vertentes. Queremos questionar, hoje, o porquê do cartaz ter gerado mal-estar. A princípio, podemos elencar os seguintes fatores:
1. Essa idéia, de que a mulher precisa ser dócil e saber usar da sua inteligência com meiguice, é algo tão arraigado entre nós que o cartaz em questão gerou protestos. De feministas. Teve gente dizendo que não é pra tanto: a mulher pode conseguir o que quiser sendo educada e falando baixo. Como se conseguir direitos fosse algo tão simples como pedir uma pizza.
2. Não demorou e surgiu o fatídico argumento: as mulheres, hoje em dia, estariam querendo "imitar" os homens. Sim, porque nós acreditamos com base empírica que o gênero é um construto social; nós lutamos para que o gênero que nos foi atribuído desde muito cedo em nossas vidas não nos defina. Batalhamos para que essa noção de gênero não se sobrepuje à nossa condição humana. Tudo isso para que alguém tenha a brilhante idéia de jogar o caô da "imitação˜ do homem.
É claramente perceptível como as mulheres são condicionadas a sempre se calarem, serem dóceis, sorrirem sempre e falarem com jeitinho. O termo "Bitch" é um bom exemplo da disparidade da avaliação dos comportamentos ditos masculinos e femininos. A mulher que busca realizar qualquer coisa, que tem um pulso mais firme e diz claramente o que quer é chamada por esse termo, enquanto se um homem faz exatamente o mesmo, ele é um bom chefe, um cara que busca colocar em prática suas coisas e afins.
No cotidiano vemos outros exemplos: há quem diga "odeio gente barraqueira, se for mulher então...", "fumar é feio, mas se for mulher então...". "mulher que fala alto é feio demais" e etc. Espera-se que mulheres sempre ajam de forma muito dócil, passiva, sorridente, mesmo quando são ofendidas, têm seus direitos cerceados ou mesmo simplesmente queiram viver de acordo com o que acreditam.
Não é só na hora de criticar o comportamento feminino que essas características impostas às mulheres se tornam claras. Como se espera que mulheres sempre sejam recatadas, boazinhas, dóceis, não se espera que as mulheres reajam. Então, supõe-se que mulheres precisam de proteção, não conseguem fazer várias coisas sozinhas. Afinal, somos vistas como "apenas uma mulher, esses seres frágeis e passivos".
Sequência de tweets da Carina Prates. Clique na imagem para ler. |
É importante destacar que nós mulheres devemos aprender a dizer não, sermos grossas quando necessário, sentar da forma mais confortável, não temer falar nossas idéias, ideais, sentimentos e vontades. Nós devemos aprender que não é errado gritar se sentimos em perigo, que ao buscar nossos direitos, a gente não tem que pedir "por favor", que fechar a cara para quem nos aborrece e ofende é normal e aceitável. E apoiar tudo isso não é ser contra a gentileza, é simplesmente dizer que podemos reagir ao desrespeito e que nossas idéias e nossos incômodos podem ser ditos e ouvidos.
Dessa forma, acreditamos que o cartaz sugerindo que a mulher aprenda a dizer não representa uma luz em meio a tantos outros que querem regular o comportamento feminino tendo em vista apenas o paradigma "limpinho" e socialmente aceitável do silêncio.
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