Não é de
hoje que o padrão de beleza vigente oprime as mulheres. E digo especificamente
as mulheres porque embora ele esteja aí para todos é no corpo feminino que ele
é cobrado com mais força e veemência. Homens aparecem são retratados e
congratulados por sua formação, inteligência e tudo o mais. Já nós somos o
tempo todo questionadas pela nossa beleza (ou a falta dela) e só isso (vide Dilma
Rousseff, que tem mais matéria criticando seus cabelos e suas roupas do que falando
sobre qualquer outra coisa).
A Marcha
das Vadias, que aconteceu em diversas cidades do Brasil no último sábado tem
como seus maiores inimigos os machistas. Estes que odeiam ver mulheres
organizadas, unidas. E obviamente esses mesmos machistas são os que curtem
julgar uma mulher por nada mais nada menos do que: a aparência delas, com base
nos padrões de beleza vigentes. Para eles, a palavra “feia” é a maior ofensa
que se pode proferir a uma mulher (e gorda também né, porque gordofóbicos que
são, acreditam que feia e gorda são praticamente sinônimos).
Pois então
o que mais choveu de “críticas” as ativistas chamando-as de barangas, não é
brincadeira. Basta procurar as imagens para concluir que a aparência das
manifestantes é o maior foco dos haters. Além é claro de outros clássicos como “mal-amadas”,
“mal-comidas”, mas obviamente tudo isso tem origem no fato de serem feias, dizem
eles.
A famosa organização ucraniana Femen, que protesta
a respeito de diversos temas, tem o foco da mídia voltado para apenas algumas
das manifestantes, as que tiram a blusa e estão perfeitamente encaixadas no
padrão de beleza vigentes: Altas, loiras, magras. Entretanto mesmo elas quando
olham para as câmeras em momento de fúria, aos berros em seus protestos, são
imediatamente desvalorizadas (tanto é que essas imagens não são geralmente
publicadas por aí, estão em maior número no site/facebook/etc da própria
organização). Toda beleza é desconsiderada quando nela não está presente um
rosto sereno e pacífico ansioso para agradar seu opressor, mas sim um grito
transgressor.
E aí está a
maior prova de que a beleza é circunstancial. Ou seja, uma pessoa é considerada
bonita ou feia dependendo do contexto em que se encontra. Uma mulher que está
indo contra o status-quo, questionando os valores que lhes foram impostos e o
privilégio masculino será, com certeza, chamada de feia.
Coloque as
mulheres da marcha de vestidinho e salto alto. Coloque-as sorrindo para uma
câmera, bebendo um champagne (porque mulher que se dá ao respeito não bebe
cerveja, todo mundo sabe), piscando para um homem. Coloque-as em um filme
pornô, em um programa de TV num domingo a tarde, coloque-as de biquíni buscando entreter os homens e
pronto. Automaticamente muitas delas serão imediatamente colocadas na categoria
de gostosas.
E se é esse o critério que querem nos colocar, eu peço a licença para falar em nome das vadias que marcham em todo o nosso país: Seremos feias. Se ao nos ver andando por aí, questionando seus valores, gritando nossas reivindicações, exigindo transformações sociais, tudo o que você consegue pensar é que somos um bando de barangas, então ótimo. É isso que queremos ser: Um bando de barangas.
Não queremos
servir para o entretenimento masculino, não queremos seguir caladas para que
vocês possam simplesmente nos achar bonitas. Sinto muito informar, mas seu
julgamento a respeito da nossa estética não é mais tão importante assim. Somos
mulheres organizadas e com voz. Voz essa que usaremos sempre. E sempre para
nós, não para concordar em te manter nessa confortável posição que o
patriarcado te colocou.
Com muito
orgulho somos vadias, somos barangas. Somos a favor da igualdade e contra o seu
privilégio.