Ah, me esqueci de uma característica. Sou boa motorista. Apesar do pavor de dirigir em engarrafamentos. E fazer balizas. E de não ter senso direção sem o uso de GPS. Talvez eu não seja assim tão boa, apesar de cautelosa. Mas, por favor, eu não represento todo o gênero feminino no trânsito. Então, não queira ofender todas as mulheres, se eu cometer algum deslize, gritando para mim algo como “tinha que ser mulher”.
O trânsito é um ambiente selvagem. Essa mesma abordagem já foi realizada, com maestria, aqui. Motoristas, de todos os gêneros, agindo de modo egocêntrico, desrespeitando regras e cometendo falhas. Conhece o icônico desenho em que Pateta se transforma em "Motorista Diabólico" ao administrar o volante?
É fácil notar que, apesar de ser o trânsito um ambiente público, o interior do veículo é o espaço privado dxs indivíduos. Quem nunca lidou com a raiva de algumx motorista que decidiu compartilhar seu gosto musical nas ruas? Ou umx motorista asseadx que não tira o dedo do nariz? Fácil lembrar de alguns tipos caricatos de motoristas. Certamente você me apontaria muitos. A psicóloga especialista em trânsito Neuza Corassa elaborou um rol de tipos de principais motorista. Tente se reconhecer.
Sim, competição! De quem tem maior poder financeiro, ou de quem é mais másculo, ou de quem é mais independente, ou de quem é mais impetuoso, ou de quem tem o espírito mais jovem, ou de quem não leva desaforo para casa. Uma rinha. É ambiente público, logo de dominação masculina. Com muitos aspectos que caracterizam a presença feminina como uma intrusão.
O elemento não humano essencial ao trânsito é o veículo. Ele não é mero objeto funcional que cuida do deslocamento das pessoas, é o ícone máximo do consumismo. A materialização do poder alcançado, do espírito indomável, do desempenho, indicativo de posição social. A combinação ideal para o másculo motorista, proativo, racional e invencível.
Soma-se a isso a ideia de exclusividade, mesmo que a maior parte da população só tenha acesso a carros produzidos em série. A sensação de que se é especial pode ser suprida pela presença de belas mulheres, como troféu. O que importa é causar competição e provar masculinidade. Já ouviu a saga do rapaz que teve seus problemas afetivos resolvidos com a aquisição de um Camaro Amarelo? Foi essa a resposta de Gabriel Gava. Na humildade.
"De Land Rover é fácil, é mole, é lindo
Quero ver jogar a gata no fundo da Fiorino"
Quando direcionado ao público o feminino, as características são outras. Um carro para pequenas distância, algo entre fazer compras e buscar as crianças na escola. Com linhas arrendondadas, de preferência pequeno, fácil de estacionar. A publicidade da Ferrari, é muito elucidativa. Enquanto ele se aventura velozmente por pistas arborizadas ou rochosas, ela cautelosamente guia pelo trânsito urbano, em busca de objetos de luxo.
"Mulheres dirigem, essa é uma realidade, o que mais vocês querem?" - dirão alguns tentando nos silenciar. Mas, o papel de motorista ou passageira pode estar condicionado à presença masculina. Já observou que, dentre casais heterossexuais que saem juntos, raramente é a mulher que guia? E que às mulheres não costumam ser ensinadas, no processo de instrução pré habilitação, a parte mecânica além daquelas enfadonhas aulas teóricas do Centro de Formação do Condutor? Ou mesmo que em muitas famílias a única tarefa doméstica que é declinada ao homem é a de lavar o carro?
A cobrança, interna e de toda a sociedade, é imensa. As estatísticas apontam a mulher como motorista que menos causa acidente. Ah, e claro, há até aquela compensação de um preço menor no seguro por ser uma "boa menina".
A cobrança, interna e de toda a sociedade, é imensa. As estatísticas apontam a mulher como motorista que menos causa acidente. Ah, e claro, há até aquela compensação de um preço menor no seguro por ser uma "boa menina".
Extreme de dúvidas que a mulher é socialmente considerada incapaz de dirigir com a mesma destreza dos homens. A cada mulher que apresenta dificuldade de dirigir há uma consequência: todo o gênero feminino é diminuído, ridicularizado.
Consequência disso é que dxs motoristas fóbicxs, lá daquele quadro elaborado pela especialista em trânsito, a maioria são mulheres. Uma segurança alimentada constantemente, pelos brinquedos, pela tevê, pelas convenções sociais e por piadas. Que, espero, você, leitorx desse blog, não reproduza nunca mais.
Adorei o texto e o vídeo do Pateta! Parabéns!
ResponderExcluirEu sou uma motorista fóbica, com certeza. :(
ResponderExcluirOla eu sou homem e apoio o feminismo,eu queria saber se vcs poderem me ajudar quem apoia o feminiso
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